Eleições americanas na era do TikTok
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Tendo tomado posições contra o TikTok num passado recente, procurando bani-lo dos consumos dos norte-americanos, eis que agora Joe Biden e Donald Trump decidiram abrir contas nessa rede chinesa. Porque, como justificam, é preciso encontrar os eleitores onde eles estão. Nos EUA, no início deste ano, contavam-se aí 150 milhões de utilizadores ativos.
Não serão fáceis as eleições de 5 de novembro nos EUA. As últimas sondagens eleitorais refletem uma ligeira subida nas intenções de voto em Joe Biden. Mas o atual presidente dos EUA não mobiliza muito entusiasmo, particularmente nos média. Há dias, o “Wall Street Journal” publicava um artigo que se detinha nos sinais de fraqueza de Biden, com base em 45 testemunhos de pessoas que gravitam à volta da Casa Branca. O retrato era demolidor: “às vezes fala tão baixo que é inaudível”, “nas reuniões lê notas para exprimir evidências”, “por vezes fecha os olhos por tanto tempo que os seus conselheiros interrogam-se se adormeceu”... A visita a França evidenciou ainda mais esses alertas. Nas imagens, contrastavam-se a velhice de um presidente (Biden) com o ar jovial de outro (Macron). Por seu lado, Donald Trump também carrega o peso da idade, ao qual soma longas e incómodas contas que ainda tem para fazer com a Justiça.
O eleitorado sabe que democratas e republicanos não apresentam os melhores candidatos. Estes, por seu lado, procuram, por todos os meios, apagar esse ceticismo. Mesmo que sejam empurrados para lugares que pretenderam destruir. Como o TikTok. Em menos de 24 horas depois de abrir conta nessa rede social, Trump acumulou mais de dois milhões de seguidores. A primeira publicação foi já visualizada por mais de 78 milhões de utilizadores. Os fins parecem justificar os meios...
Numa peça intitulada “como o TikTok pode decidir as eleições”, a revista “Newsweek” defende que esta plataforma tem um gigantesco trunfo: alcançar os eleitores mais novos. Nos EUA, os jovens da Geração Z somam 40 milhões de eleitores potenciais, quase um quinto do eleitorado americano. E isso pode ser decisivo numas eleições em que os candidatos dos partidos republicano e democrata estão próximos. E há ainda as mulheres, os hispânicos e os latinos, todos igualmente grandes utilizadores do TikTok. Ouvido pelos jornalistas da “Newsweek”, Dave Karpf, professor da Universidade George Washington especializado nos média digitais e política, explica que a popularidade do TikTok “sinaliza principalmente o declínio contínuo de outras plataformas”. E isso dá uma força inimaginável a esta plataforma, a tal ponto que muitos politólogos falam já em “eleições TikTok” nos EUA.