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Na crónica de hoje, não posso deixar de aludir a dois assuntos da actualidade, respectivamente, nacional e europeia: as eleições legislativas em Portugal e o novo referendo irlandês ao Tratado de Lisboa. Eleições em Portugal - Depois das eleições legislativas, é tempo de apreciar as perspectivas de governabilidade nacional futura. Como tem sido consensualmente reconhecido, considerando os resultados de domingo último, o novo Governo terá uma amplitude de execução política bem mais limitada do que a do seu antecessor, elevando a exigência de capacidade de diálogo, de conciliação e de negociação. Em suma, da capacidade de "compromisso político". Acresce que, o que o país precisa - e exigirá a todos os protagonistas políticos, considerando a situação económica internacional e, naturalmente, a nacional - é, acima de tudo, de sentido de responsabilidade e de estabilidade institucional, que propiciem condições para a sua governabilidade. Nestes tempos de grande exigência no plano internacional, é especialmente forçoso governar para ultrapassar a crise e preparar o futuro, relançando a economia e promovendo o emprego. Para tanto será premente mobilizar o país, seja apostando no investimento público (como instrumento fundamental de combate à crise) seja puxando pela confiança de todos os agentes económicos, em especial dos consumidores e dos investidores privados. O país enfrenta grandes reptos e, em nome do interesse geral, a execução da política nacional deve ser conduzida com estabilidade e responsabilidade. Estabilidade de forma a devolver confiança à economia (e assim atrair investimento nacional e estrangeiro) e responsabilidade para realizar as políticas públicas necessárias para responder aos problemas das pessoas, em especial reforçando as políticas sociais e pensando formas de solidariedade capazes de reduzir as desigualdades.
O referendo irlandês e o "futuro do emprego" - As sondagens apontam agora para a vitória do sim, mas a verdade é que o novo referendo irlandês - cujos resultados desconheço ao momento em que escrevo - está irremediavelmente marcado por um tema: o aumento do desemprego. Nos dias que antecederam este referendo, não parece ter sido o "futuro da Europa" que se discutiu, mas o "futuro do emprego" num país onde a taxa de desemprego - após anos de prosperidade económica e com taxas anuais de desemprego a oscilar entre os 4,4% e os 4,6% desde 2002 - subiu no último ano de forma galopante (passando, de acordo com o Eurostat, de 6,1%, em Agosto de 2008, para 12,5%, em Agosto deste ano). De facto, o "caso irlandês" espelha, identicamente, o principal desafio europeu: se parecem inúmeros os problemas que hoje se lhe colocam, não deixa de ser inegável que o tema "emprego" é e será, esse sim, o grande desafio da Europa.