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1. O Partido Socialista (PS) decidiu que os candidatos à Assembleia da República não poderão ser, ao mesmo tempo, candidatos a câmaras municipais ou juntas de freguesia. Parece um medida lógica, que, de resto, vem na sequência de igual iniciativa tomada pelo PSD. Parece, mas não é. Este esforço de transparência democrática repentinamente descoberto pelos socialistas tropeça nos factos. Porquê? Porque o PS já não vê problema na existência de candidatos simultâneos ao Parlamento Europeu e às câmaras. O porta-voz do partido entende que as situações são "completamente diferentes". Deve ser a isto que se chama tapar o sol com a peneira. Como é evidente para qualquer mortal, não há nenhuma diferença de substância entre os dois casos.
A decisão do PS, que cheira a tardia e sabe a plágio, põe justamente em dificuldades aqueles que, como Elisa Ferreira, no Porto, ou Ana Gomes, em Sintra, decidiram candidatar-se aos dois postos (eurodeputada e autarca). E os que tinham programado as suas vidas para ficarem no Parlamento português ou nas câmaras (caso vencessem as eleições). É o que dá mudar as regras a meio do jogo: alguém apanha por tabela.
O caso de Elisa Ferreira é particularmente interessante de analisar. Depois de ter cometido, como já aqui escrevi, o erro crasso de aceitar ser candidata aos dois lugares, a ex-ministra esforçou-se por rebater as críticas, de modo a afastar o tema, como agora se diz, o mais depressa possível da sua campanha. Quando a coisa parecia serenar, eis que uma decisão do PS vem reavivar o assunto. Se a isto somarmos a sondagem publicada recentemente pelo JN que a coloca muito longe de Rui Rio, pode bem aplicar-se a Elisa Ferreira a lei de Murphy: "Se alguma coisa pode dar errado, certamente dará".
Ou seja: a candidata do PS à Câmara do Porto não tem apenas que arrostar com um avanço substancial do seu principal contendor nas eleições, com um partido que reclama mais presença na sua candidatura, com a necessidade de explicar bem explicadinho o motivo pelo qual decidiu candidatar-se a dois lugares... Elisa tem também agora que apanhar as canas de uma decisão do partido que claramente a fragiliza. A coisa não está fácil...
2. A sondagem que hoje publicamos sobre as eleições para a Câmara de Lisboa aponta para um empate entre António Costa e Santana Lopes. O que significa duas coisas. O ex-primeiro-ministro não foi esquecido pelo eleitorado lisboeta, apesar das trapalhadas que o tiraram do Governo. E António Costa não teve tempo, nem arte, para cimentar a sua posição à frente da autarquia da capital. Adivinha-se, portanto, um combate feroz.