Corpo do artigo
A candidata do PS (ou melhor: de uma parte do PS) à Câmara do Porto é, eliminadas as visíveis diferenças, assim uma espécie de Manuela Ferreira Leite. Quer dizer: é politicamente tenrinha. Não vale a pena recordar os estimulantes episódios que, uns por sua culpa, outros por culpa do partido que supostamente a apoia, destruíram quaisquer hipóteses de Elisa vencer Rui Rio, mesmo antes de a sua candidatura ser formalizada. Basta recordar apenas três dos últimos marcantes (sim, é um eufemismo) factos da campanha da eurodeputada para percebermos quão desiludidos devem andar os que (confesso: eu entre eles) a viam como uma boa "challenger" do actual líder da autarquia.
Anteontem, numa acção de campanha no Mercado do Bom Sucesso, no Porto, Elisa foi interpelada por uma florista que lhe perguntou: "Por que é que a senhora se candidatou às europeias e ao Porto? Se queria vir para o Porto não se candidatava (às europeias)". Elisa respondeu: "Eu tenho um mandato de quatro anos e meio que é um trabalho sossegadinho e bem pago, mas estou a vir para aqui!".
Um trabalho "sossegadinho e bem pago". Isto não é brilhante? É brilhante. É o sonho de qualquer mortal. Elisa Ferreira acaba de nos dizer que os eurodeputados ganham muito e fazem pouco. Havia muita gente que desconfiava da vida "sossegada" dos eurodeputados. Para demonstrar o seu amor ao Porto, a candidata do PS confirma-o, passando assim um atestado de preguiça e lassidão aos seus companheiros do Parlamento Europeu. Não está mal!
Anteontem, Elisa Ferreira participou num debate televisivo com os outros candidatos à autarquia portuense. Resultado: um desastre. Não é que Elisa tenha revelado ignorância sobre as matérias em discussão, mas o nervosismo (que roçou muitas vezes o descontrolo) mostrado é bem demonstrativo de como a candidata se sente encurralada. Eu assisti a tudo espantado. Rui Rio assistiu a tudo deliciado. Ele sabe que basta manter-se sossegado e cumprir as regras mínimas da democracia para obter nova maioria absoluta.
A estes dois desastres soma-se outro. Alguns cartazes de Elisa Ferreira são isso mesmo: um desastre. Ela aparece totalmente transfigurada, a tal ponto que é preciso olhar com atenção para a reconhecer. A tecnologia faz maravilhas, é verdade. Mas convém que a coisa se mantenha dentro dos limites do aceitável. Pode parecer um pormenor de somenos, mas, de facto, não é. Ao mostrarem a candidata uns bons anos mais nova e com um ar igual ao de quem fez 15 ininterruptos dias de praia, de manhã à noite, certos cartazes raiam o insulto aos eleitores. Por uma muito simples razão: aquilo para que estão a olhar não é verdade. Não é Elisa Ferreira.
Já aqui o disse: à candidata do PS à Câmara do Porto aplica-se a lei de Murphy (estranha coincidência: a Manuela Ferreira Leite também): "Se alguma coisa pode dar errado, certamente dará". As facas afiam-se no PS/Porto.