Andando pelo país, do Sul ao Norte, nos últimos dois meses, tenho-me apercebido muito bem do modo como os setores da restauração e da hotelaria estão a procurar reagir à muito grave crise provocada por uma pandemia que ainda não tem data marcada para atenuar os seus principais efeitos.
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Com a maior sinceridade, quero dizer que tenho vindo a criar um enorme respeito pelo esforço dos profissionais de ambos os setores. Um pouco por todo o lado, quase sempre sem grandes queixas, tenho observado o modo rigoroso como responsáveis e trabalhadores seguem as estritas regras de higiene a que a situação obriga, garantindo as melhores condições a uma clientela que ainda se mostra hesitante e temerosa.
Nos últimos anos, o turismo disparou entre nós, com uma dimensão que, há que reconhecer, por vezes se tornou incómoda para a vida de muitos cidadãos, que viram o seu quotidiano invadido de uma forma bastante agressiva. Mas, ao afirmar-se, a importância do turismo na nossa riqueza ajudou a alguma folga nas contas, facilitando políticas públicas, gerando uma imensidão de empregos. Percebemos melhor agora que não é possível "ter sol na eira e chuva no nabal".
Houve algum exagero na oferta hoteleira, que parecia imitar as "pirâmides" de lucro? Claro que sim. Mas convém compreender que muito do património imobiliário foi renovado, nomeadamente com o surto do alojamento local, que a vida comercial das cidades foi estimulada e os restantes setores turísticos, com os transportes pelo meio, tiveram ganhos de qualidade que os índices internacionais não deixaram de refletir.
Sei que, no olhar de alguns, um outro aspeto pode parecer de somenos, mas, dada a minha experiência profissional, tenho de destacar o impacto que a onda turística dos últimos anos tem vindo a ter na imagem internacional do nosso país. Olhe-se o número crescente de obras que, pelo Mundo, são publicadas sobre Portugal, sobre os portugueses e a sua História, os filmes que nos tomam como cenário e o muito que, de positivo, se diz sobre a segurança das nossas cidades. Muitos não terão reparado mas, em escassos anos, demos um imenso salto nessa perceção. E quem, mais do que o turismo, fez por isso?
Não sabemos ainda o que o turismo português vai ser no futuro. Mas uma coisa é certa: se ele não recuperar, as coisas não irão ser nada fáceis para a economia nacional, nos próximos anos. Como o relatório Porter nos ensinava, temos de fazer melhor o que já fazemos bem. E em poucos setores somos tão competitivos como na área turística.
*Embaixador