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O futuro da liderança do PSD e, nessa medida, também do país está realmente em aberto. À primeira vista, parecem estar reunidas as condições para Rui Rio ser um líder de transição.
O PSD é, tradicionalmente um partido muito dividido internamente. A base eleitoral que apoiou este candidato não foi esmagadora. A solução governativa em curso ainda é estável. O tempo que medeia desde a tomada de posse do novo líder até às eleições legislativas é demasiado para suster o poder de convocatória e de iniciativa do Governo (e, sobretudo, do PS) e à justa para unir internamente e organizar ideias para uma alternativa que o seja e que faça sentido. O perfil psicológico do novo líder não parece ir de encontro ao enorme jogo de cintura requerido nem à rapidez da reação a que o mesmo obriga. Sempre na posse de um serenidade à prova de bala e de uma cordialidade a roçar a simpatia, atitude que António Costa domina na perfeição.
No entanto, Rui Rio parece mover-se pela eficácia (e mesmo quando recua, como no caso das presidenciais, acaba por ter razão).
Ora uma grande parte da eficácia, a que depende do próprio, está estribada na preparação e no foco sobre um objetivo.
Quem tiver tido o cuidado de analisar as moções de estratégia globais apresentadas percebe com clareza que o texto da candidatura de Rui Rio é uma súmula bem estruturada do que pensou sobre os vários assuntos. Ao contrário, o texto da candidatura de Santana Lopes é um elencado muito pouco conseguido de duzentas e muitas medidas que à terceira já não são mais do que princípios gerais. O que vale é que Santana Lopes não parece saber grande coisa destes escritos e tem sempre na sua inteligência emocional o grande trunfo da sua performance.
Voltando a Rui Rio, o texto que divulgou mostra um pensamento abrangente no enquadramento, claro nas prioridades e contido nas metas.
Do posicionamento ideológico do PSD, herdeiro de um legado social-democrata concreto a que se associa um lugar específico no espectro político-partidário português que é do PSD e não de um PS mais à direita ou de um CDS com mais preocupações sociais, à correta priorização dos objetivos nacionais (longe da esperada obsessão pelas contas), passando pela ambição de renovação do sistema eleitoral ou pela avaliação de desempenho dos que fazem a intermediação dos partidos junto do seu eleitorado, a proposta que apresentará ao Congresso tem inegável base para uma discussão de interesse nacional.
Veremos se o protagonista terá força para a impor e para a conduzir.
O perfil psicológico do novo líder não parece ir de encontro ao enorme jogo de cintura requerido nem à rapidez da reação a que o mesmo obriga.
* ANALISTA FINANCEIRA