Corpo do artigo
Em França, o grande sucesso literário chama-se “A Breve Vida das Flores”. A autora, Valérie Perrin, conta a história da guarda de um cemitério onde, apesar da dor, da morte e da solidão, é possível, entre o riso e as lágrimas, encontrar a vida.
Se eu tivesse talento de ficcionista, aproveitava a inspiração para romancear uma história que agitou a sociedade portuense e converteu a cidade num fenómeno de crendice, passatempo e humor colectivos. O caso assombrou o Burgo e fez parte do seu quotidiano, pelo que me relatou quem assistiu aos acontecimentos. Com alguns condimentos dava um romance.
A coisa começou por um "consta" e "diz-se", acerca do que sucedia a quem passava à meia-noite junto do Cemitério de Agramonte e ouvia barulho. Para alguns, parecia uma metralhadora a disparar. Para outros, especialmente senhoras, era uma máquina de costura a funcionar e seria esta a convicção da opinião pública que, a partir daí, fazia romaria, todas as noites, até ao cemitério "para ouvir a costureira a trabalhar" e tentar vê-la, enquanto alma do outro mundo. E surgiram opiniões de que havia luzes estranhas para os lados do ruído da máquina. Até afiançavam terem visto vultos em redor do sítio da costura. A romaria nocturna durou meses e, tal como surgiu, desapareceu sem conclusões sobre o fenómeno.
O meu informador diz que também lá foi: "Nem ouvi metralhadora nem máquina Singer, mas sim escuridão, não no cemitério, mas nas ruas em redor, que nem iluminavam os vivos quanto mais os mortos!" E aqui têm como, não havendo redes sociais, nem TV, as pessoas eram vítimas de "fake news".
(O autor escreve segundo a antiga ortografia)