Falta menos de um mês para as eleições autárquicas. Quem percorre o país sente-as nos melhoramentos das ruas em curso para mostrar obra feita, na lavagem de cara dos sítios mais movimentados, nos cartazes que poluem a paisagem urbana... Em termos de comunicação política, pouco se avançou quando estão em causa ciclos políticos locais.
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Ainda não será desta vez que haverá grandes revoluções no modo como se pensa uma eleição autárquica. Aqueles que querem ser eleitos localmente sabem que têm de controlar as juntas de freguesias e mostrar obra nos centros do respetivo município. Claro que os candidatos no poder reúnem um grande avanço em relação aos adversários, até porque existe uma clique que, ao longo dos mandatos, se vai adensando em cargos que pretendem ver perpetuados. Daí que o poder local tenha dificuldades de renovação.
Não se submetendo necessariamente a lógicas partidárias nacionais, estas eleições originam sempre leituras à escala do país que podem não servir o interesse dos líderes dos partidos. Quer António Costa, quer Rui Rio não fazem questão de chamar a si a responsabilidade pelos resultados nacionais. Um porque não quer entrar nas contas do maior número de mandatos do país, o outro porque teme o resultado das maiores cidades do país, sobretudo de Lisboa. É certo que Carlos Moedas foi pensado como uma opção forte para a capital, mas será difícil vencer Fernando Medina, e essa previsível derrota do candidato de direita fará sempre ricochete para Rio, que ainda por cima não terá a ampará-lo a segunda Câmara do país, a do Porto, onde já reinou durante vários anos.
Com a pandemia ainda a pairar como uma ameaça, ninguém se atreve a preparar circuitos do "lombo assado" ou ajuntamentos para multidões. Por isso, torna-se difícil planear esta campanha eleitoral que tradicionalmente assenta numa grande proximidade com os eleitores. Prevaleceram os cartazes, com os esperados enquadramentos de imagem e com slogans pouco criativos. Há quem tenha procurado inovar em termos territoriais. Por exemplo, João Azevedo, candidato do PS a Viseu, colocou os seus cartazes em Lisboa e Carlos Moedas levou-os para a autoestrada A2, que nos conduz ao Algarve. É uma forma de ganhar notoriedade e conquistar visibilidade.
Com as férias a terminar, estas eleições ganharão outra força nas próximas semanas. Todavia, não atingirão grande fôlego. Por dois motivos: porque os líderes locais não têm projeção nacional e porque as lideranças partidárias não revelam grande interesse nestas eleições.
Professora Associada com Agregação da Universidade do Minho