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No milénio passado, em catraio, entre as actividades extra-escolares que nos faziam felizes, estavam os robertos. Por respeito, nunca lhes chamei fantoches para não serem confundidos com os a sério e piores do que os manuseados pelos rober-teiros. Pelo mesmo motivo, nem dizíamos fantochada. O local do deslumbramento era a Cordoaria (no canto onde agora o Camilo abraça a amada) e havia dois ou três artistas que alternavam a pobreza dos proventos auferidos por nos ajudarem a crescer por dentro.
Esta evocação vem a propósito da reinauguração do Museu das Marionetas (que sempre vi como descendentes selectas dos robertos). Nascido do sonho do inesquecível tripeiro e roberteiro emérito João Paulo Seara Cardoso, o primeiro Museu nasceu, em 2013, na Rua das Flores, num edifício semi-arruinado e totalmente reabilitado para o efeito. O deslumbramento durou pouco já que, entre nós, além de pessoas e comércios, também se desalojam museus. Com a venda do imóvel, as marionetas tiveram de regressar à sua casa-mãe, o Teatro de Belomonte. Ali renasceu, por intercessão dos anjos destas magias e a determinação dos seus representantes no Burgo (particularmente a entusiasmada Directora).
Com projecto do Arquitecto Jorge Gigante (o mesmo do anterior) o novo Museu é uma mais-valia para o Centro Histórico e o próprio Burgo que, além de identidade e carácter, para continuar a afirmar-se, precisa de oferecer atractivos com o espírito de uma cidade multicultural na ponte entre tradição e modernidade. E eis a oportunidade dos portuenses testemunharem como os sonhos podem ser reconstruídos.
*O autor escreve segundo a antiga ortografia