Em defesa da Jornada da Juventude
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Desde o início deste ano, a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) foi sujeita a um julgamento mediático, que transformou algumas particularidades do evento em armas de arremesso à Igreja. O custo do altar-palco foi o primeiro grande momento de indignação seletiva, num país que pouco ou nada se incomoda com o desperdício crónico de dinheiros públicos ou, pior ainda, com o confisco a que cidadãos e empresas estão submetidos.
Ultrapassado o irritante do palco, logo veio o insólito selo do Vaticano com a representação do Padrão dos Descobrimentos, sucedendo-se um extemporâneo debate sobre estética e bom gosto, promovido pelas mesmas pessoas que nunca discutem a validade de criações artísticas ditas progressistas. Muitas delas sumptuosamente pagas com o dinheiro dos contribuintes.
Está claro que estes debates têm uma natureza muitas vezes superficial e a sua duração é a mesma de um fósforo a arder. Mas os efeitos são mais prolongados e atingem a reputação da Igreja Católica, que se torna num alvo fácil de atingir, devido à sua natureza conservadora, doutrinária e pouco dada a responder à espuma dos dias.
A estrutura eclesiástica tem muitos motivos para ser criticada. E para o fazermos de forma veemente, como é o caso do escândalo da pedofilia, que foi chocantemente protegida por muitos responsáveis. Mas não podemos colocar tudo no mesmo saco e ignorar, desde logo, o papel fundamental que a Igreja desempenha em diversos domínios, substituindo-se ao Estado nas obrigações junto da população. Como no setor social e da saúde, por exemplo, onde através das Misericórdias presta cuidados hospitalares, continuados e domiciliários, muitas vezes sem a justa compensação financeira. Ou no ensino, onde a tendência é para haver aumento de procura por colégios católicos, devido à crise galopante da escola pública. Ou ainda no património cultural, assumindo a missão de preservar e abrir à fruição de todos o seu edificado histórico.
Mesmo que pareça impopular, a Igreja também merece ser falada por bons motivos.
Especialmente quando acolhe uma grande manifestação solidária e humana como é a JMJ, que vai projetar uma imagem positiva do nosso país no Mundo.
*Presidente da Associação Comercial do Porto