<p>A seguir a Bombaim (Mumbai), o quê? Alinhados em fila indiana, fazendo actos de contrição, preparando as defesas, levantando as pontas levadiças, tentando manter a calma, vários países do mundo esperam o próximo golpe. </p>
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Claro que a principal meta do "terrorismo internacional", disposto a actos simbólicos e grandiosos contra a "modernidade", será a nova administração americana. Numa mensagem pouco citada, a chamada "Al Qaida" (neste caso, certificada pelo sítio onde foi transmitida a diatribe) chamava a Obama "Murtad Fitri", um apóstata da pior espécie.
Os grupos extremistas "religiosos" mais organizados preencheram, de várias formas, o vazio deixado pelo "comunismo". Fortalecem-se dos mesmos instintos, incluindo o partido-exército, o dogmatismo laico, o espírito permanente de denúncia, a visão global da "causa", o ódio às "liberdade civis" burguesas, etc.
É assim natural que olhem para Washington como um campo de batalha, e para a nova administração como tudo aquilo que detestam.
Obama disse, desde o início, que iria combater o "terrorismo internacional", sem cair nas suas ratoeiras. Isto é, sem ocupar territórios, sem recuperar o espírito de "cruzada democrática", sem arrogância unilateral. Mas com força letal, e força decisiva, onde quer que seja preciso. Já se chamou a isto a "estratégia israelita", se lhe retirarmos o espírito missionário.
Isto constitui, para a galáxia terrorista, uma ameaça.
Obama pode ser um adversário ao mesmo tempo perigoso, usando todos os meios humanos e tecnológicos ao dispor, e popular, tratando dos pobres e dos oprimidos de toda a terra. A começar pela sua.
Na Índia, há quem diga que esta batalha começou em Mumbai.
A princípio, pensou-se que os ataques poderiam ser uma mera "questão interna", a resposta muçulmana ao terrorismo hindu descoberto em Malegaon, o contra-ataque à rede "ariana" do detido coronel Purohit. Por negra ironia, o comandante antiterrorista do estado de Maharashta, comissário Hemant Karakare (chefe do ATS), estava há meses à procura das redes anti-islâmicas virulentas, que pareciam preparadas para uma espécie de golpe palaciano, em várias regiões do país.
Karakare foi o primeiro polícia a morrer, à frente dos seus homens, de especialistas e veteranos, como Ashok Kamte e Vijay Salaskar, no ataque ao Cinema Metro. Eis o que se chama dar o exemplo.
Depressa se percebeu que os jovens atacantes (50 a 100), treinados em guerrilha urbana e operações especiais, tinham inaugurado uma nova forma de terror. Não mais o terror anónimo, feito de suicídios e bombas maciças, mas a guerra de rua, a tomada de espaços, a agitação. Pensou-se que os culpados podiam ser os estudantes islâmicos do SIMI, os maoístas Naxalitas, os piratas do Mar Vermelho, os Tigres Tamiles, os militantes da Caxemira, a colecção de grupos, comunidades, povos, com contas a ajustar com as autoridades de Deli. Mas a escolha dos estrangeiros, a escolha dos símbolos de conforto, afluência, cultura e consumismo ocidentais, a busca de uma mensagem de intranquilidade, face ao mundo "desenvolvido", mostram muito mais do que um problema doméstico.
A declaração parece clara. A Índia foi escolhida, porque é um bom veículo. Mas não é o verdadeiro destinatário.
Bakutuhumbi Raman, o ex-chefe do contra-terrorismo indiano, que me faz o favor de ser um bom amigo, tem estado sozinho a explicar que isto se iria passar. A burocracia securitária do seu país não o ouviu.
Agora é tarde.