<p>Na Primavera de 1940, em Katyn e noutros pontos, foram assassinados pela polícia secreta soviética dezenas de milhares de reservistas, oficiais e civis de várias origens, cidadãos da Polónia ocupada. Podia desse martírio ter nascido este poema.</p>
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Sou Estanislau, em Katyn morri.
Triste Anatoli, lembro-me de ti.
Russos, da Ucrânia, tártaros e judeus
Cristãos, muçulmanos, filhos deste Deus.
Todos enterrados, rostos de Katyn.
Todos encerrados numa dor sem fim.
Nos anos 40, no século passado
Havia em Katyn breve povoado.
E no bosque perto, mesmo ali ao lado
Rezava na cela um pobre soldado.
Fantasmas em fila, de Gnezdovo a Kozelsk
Sangue em cada vila, até Starobelsk.
Vinte mil passados, mortos em Karkov
E em Ostashkov, a prova dos nove.
Rumo a Smolensk, lágrimas invisíveis
Chego a Jukhnovo, vidas impossíveis.
Seis abutres negros
Voam sobre a guerra
Para terminar
Os presos da terra
Zubarin-comissário força a confissão
Beria mercenário, de foice na mão.
Mikoyan raivoso, Estaline infuso
Voroshilov renego, Molotov acuso.
O tiro na nuca, sob as ventoinhas
O crime apagado, entre ladainhas.
O Solidariedade, em oitenta e um
Relembrou Katyn, a vala comum
Mente proibida, e logo selada
Mas face à verdade, não serviu de nada.
A ver tantos anos, de negra mentira
Lembrei-me de mim, no ponto de mira.
Era Estanilau, e em Katyn morri.
O Velho Volodia ainda sorri.
Vagueio na noite das almas sem paz.
Chamo em silêncio pelo meu rapaz.
Sou um mensageiro
Da negra floresta
O mudo cordeiro
Da sangrenta festa
"Zbrodnia Katinska": um crime em Katyn.
Mas o Ocidente perdeu seu latim.
Murmúrios de medo, e conveniência
Os reis do segredo, a negra prudência.
Em cinquenta anos de "entente" cordial
Foram nossos amos os cúmplices do mal.
Fui Estanislau, em Katyn morri.
Vejo aquela poça, pois fiquei ali.
Em noite de breu, sem crime fui réu
Morto em Katyn, de olhos p'ró Céu.