<p>A habitação, em tempos o sonho dourado dos portugueses, transformou-se para a larga maioria num pesadelo. Os que habitam casa própria estão condenados a uma renda por 30 ou 40 anos. Em boa verdade, quando os jovens se casam e juram fidelidade eterna, a quem verdadeiramente se estão a vincular de forma definitiva é, não ao cônjuge, mas à Banca. A compra de habitação representa, assim, a hipoteca, não apenas da propriedade, mas da própria vida.</p>
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Por outro lado, os que vivem em casa alugada com rendas antigas (que são a larguíssima maioria) também não abdicam dos aluguéis de 50 ou até 100 euros. Como poderiam, se não há mercado de aluguer a preços aceitáveis? Estão por esta via condenados a habitar casas que, sem manutenção, progressivamente se degradam. No ocaso da vida, vivem muitas vezes em situação de insalubridade e até de insegurança. O congelamento das rendas, que aparentemente defenderia os inquilinos, revelou-se um embuste.
Por fim, quem habita uma casa da Câmara, em regime de habitação social, está também prisioneiro. Por muito que progrida na sua vida pessoal e profissional, prefere, compreensivelmente, continuar a pagar dez ou 15 euros de renda. Como não cessa a construção desenfreada de bairros sociais, a situação tende a eternizar-se e a agravar. As rendas continuarão ridiculamente baixas. A construção de fraca qualidade, associada à ausência de manutenção, tem por consequência o total desconforto, para já não falar até das doenças crónicas que daí resultam.
Os portugueses - quase todos! - são escravos das suas próprias casas, cujas paredes são verdadeiras algemas de pedra. Há obviamente uma franja que consegue escapar a este inferno, ou por capacidade económica própria, ou porque teve a sorte de residir num dos raros concelhos em que os autarcas têm por prioridade a qualidade de vida. Mas é, contudo, uma minoria.
O imobilismo social é o corolário lógico desta anacrónica situação, esta prisão domiciliária colectiva. Empresas fora dos grandes centros não conseguem angariar trabalhadores, porque as pessoas não podem abandonar as suas casas. A mesma razão inibe muitos idosos, reformados, residentes em bairros sociais das áreas metropolitanas, de regressar à província, à terra donde saíram em busca de trabalho.
A habitação é, há décadas, um dos maiores problemas sociais do país. Teria uma solução, rápida e fácil, com políticos corajosos. Ou seja, em Portugal, não tem solução.