Onde estávamos. Várias semanas depois. Como se nos pudéssemos dar ao luxo. Daqui a dias chega a troika para a oitava e a nona avaliações e não temos boas notícias para lhes dar.
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Os dados da execução orçamental são muito preocupantes e não garantem, antes pelo contrário, o cumprimento das metas. Depois da atribulada experiência da sétima avaliação teremos de dar garantias de que vamos conseguir cumprir ou, não conseguindo, que temos medidas alternativas.
Na Alemanha as eleições ainda tardam e na Europa a recessão mantém-se. Não vejo como se possa imaginar uma troika mais disponível para conceder.
Da última vez em que nos encontramos, tínhamos prometido uma série de cortes, alinhamentos entre sistemas de segurança social, reformas voluntárias e requalificações forçadas. Tudo a valer para lá de 4 mil milhões de euros e sem qualquer ideia sobre o impacto que podem ter na economia. A chegarmos lá, chegaremos exangues. A não chegarmos, ficamos insolventes. O ponto em que estamos é incompreensível. Passaram duas leis na Assembleia da República sob grande contestação. Faltam muitas mais, as mais difíceis e não se descortina consenso. Nem sequer sobre o que procurar consenso. A algumas semanas do exame. É de arrepiar!
Podia funcionar se todos os partidos se entendessem de agora em diante, com o interesse nacional à frente e a troika olhos nos olhos.
E alguém acredita?
Não me parece. Que razões haveria? Nem convocados pelo presidente da República os partidos do "arco da governabilidade" (mas que não governam nem se deixam governar) se quiseram pôr de acordo em nome de um país que precisa de se mostrar coeso, com vontade firme de cumprir um caderno de encargos exequível, dando espaço a uma retoma que só se fará quando Portugal voltar a ser credível (a sério e não no sentido especulativo que tanto se apregoa).
Ou alguém acredita que o esforço foi sério, isento de tática partidária (de todos para todos), com todos perfeitamente cientes da emergência do momento?
Não podemos acreditar porque os resultados estão aí. Por mais que nos tivesse parecido óbvio que tinha de funcionar.
Alguém acredita no discurso de meninos bem comportados que prometem não desperdiçar a "aproximação" patriótica? As "sementes" para o futuro? Com "humildade"?
Alguém acredita na energia renovada de um Governo que tem como trunfo um vice-primeiro-ministro que saiu por estar em profundo desacordo com a política seguida e por se sentir reiteradamente dispensável?
Alguém acredita num reforço de legitimidade (cena 2) via apresentação de uma moção de confiança garantida à partida por deputados que mais parecem funcionários partidários?
Ou num exercício de oposição que teima em se acantonar para abocanhar o poder com medo de acabar no bolso do Governo?
A não ser que a ala esquerda do PS passe a entender-se à esquerda, agora que a ala direita tem de dizer adeus a um entendimento futuro com Portas.
Ou Portas se tente outra vez logo no início do Orçamento do Estado e os mercados peçam mesmo eleições para estabilizar.
Para já......
Temos de nos resignar a este contratempo democrático que conseguiu fazer de uma inesperada proposta corajosa um período de auscultações rotativas e mornas agraciadas com encómios imerecidos.
Encolher os ombros coletivos como quem mais uma vez foi enganado, abanar a cabeça como quem não acredita que caiu outra vez na esparrela do "agora sim, é impossível não pensar no interessa nacional" e mergulhar de vez no verão, atarraxando bem os auscultadores que nos dão, e só, a nossa música e nos mantêm em profilática distância da conversa fiada dos políticos.
Mas como isto da esperança é mesmo a última a morrer pode haver quem queira, apesar de todas as evidências, sentir-se observado por um PR atento que sabe com "meridiana clareza" que a plataforma de entendimento nos será imposta pelos nossos credores em condições menos proveitosas e que poderá intervir de novo com coragem e lucidez a bem da sua reconquistada soberania política.