Definitivamente, o Governo do PS entrou em roda livre, entregando o futuro do país e de milhões de portugueses nas mãos de Berlim e Bruxelas. O que ocorreu na sexta-feira é inqualificável, ofende e pode mesmo ter violado todo o nosso edifício institucional democrático.
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De facto: I) as novas medidas de austeridade que o Governo quer aplicar ainda este ano não foram aprovadas no Conselho de Ministros da véspera, nada é referido no comunicado da sua reunião; II) o novo plano, de imediato comunicado e aplaudido em Bruxelas, não foi, assim, aprovado pelo Governo, seria talvez do conhecimento do seu núcleo duro; III) o novo pacote também não foi previamente comunicado ao Parlamento, órgão constitucional de que o Governo também depende; IV) não terá sido sequer pré-anunciado ao Grupo Parlamentar do PS, como ficou patente na sua reacção, enquanto era apresentado à imprensa; V) o novo pacote não foi antes comunicado à Presidência da República; VI) as novas medidas de austeridade terão sido apenas acertadas com Bruxelas sob supervisão alemã, sem articulação (ao menos formal) com os órgãos de soberania, incluindo, quiçá, o próprio Governo.
Mas interessam sobretudo os conteúdos. Quanto a estes já não há surpresas, nem um euro é pedido à Banca e aos grupos económicos com lucros obscenos. Quem vai sofrer de novo são os funcionários públicos, (sem aumentos até 2013), todos os reformados sem excepção, (com pensões congeladas até 2013, e, em muitos casos, cortadas e objecto de maior tributação de IRS), os trabalhadores que poderão ser despedidos de forma fácil e barata, os desempregados que verão de novo cortado o subsídio de desemprego, os doentes e idosos que pagarão ainda mais pelos remédios, enfim, o país com novos cortes no investimento público.