Entre os anos da "guerra" da covid e estes novos tempos da guerra da Ucrânia, não existiram tempos intermédios. Passamos da urgência da primeira, aliás ainda não acabada de todo, para as urgências da segunda. Isso faz com que estejamos em "estado de guerra" há mais de dois anos e sem que se consiga ver qualquer luz ao fundo do túnel, seja ele qual for.
Corpo do artigo
Se no que toca a "baixas" do lado português a covid leva uma triste dianteira, no que se refere à vida das nossas empresas e da nossa economia, à data em que nos encontramos, ainda não é fácil dizer qual será mais grave no final das contas.
Quando a guerra da Ucrânia ainda era só uma ameaça mais longínqua, a União Europeia desenhou e pôs no terreno um ambicioso plano de apoio à recuperação das economias dos seus estados-membros, no montante inédito de muitos milhões de euros.
Conhecido em Portugal como PRR ou "bazuca", apesar da sua formulação final ter recebido críticas de quem achava que devia ter mais privado e menos público, os seus pressupostos foram estabelecidos com o que se sabia e previa na época. Os investimentos prioritários tinham eixos bem definidos no caminho de um futuro inovador e sustentável que permitisse, mais do que recuperar a economia e as empresas depois dos tempos conturbados da covid, prepará-las para disporem de uma maior competitividade no futuro que se adivinhava. A questão da sobrevivência aparecia mais ligada ao futuro próximo do que ao passado recente.
Com a emergência da guerra atual e a revolução inopinada dos custos, nomeadamente das fontes de energia e matérias-primas, para já não falar de novas prioridades aparentes, como o reforço do investimento na defesa dos países da UE e da NATO, é natural que os pressupostos mudem.
É costume dizer que em tempo de guerra não se limpam armas. É com o mesmo sentido de urgência e da necessidade de atentar no que é essencial que hoje também devemos pensar que em tempo de guerra é que se limpam fundos. Quem de direito tem a enorme responsabilidade de perceber que o que parecia espetacular e superadequado até há um mês, agora merece ser revisitado com os olhos bem abertos às necessidades supervenientes.
A questão da sobrevivência das empresas e da economia passou a ser muito mais importante do que as preocupações que estavam na agenda nacional e europeia antes do senhor Putin ter resolvido virar a nossa vida do avesso.
*Empresário