Há ideias que, de tantas vezes serem repetidas, se tornam verdadeiras. Uma delas é a de que a troika está a dar cabo de Portugal, como se nos impusesse a austeridade para seu benefício. Errado. A troika emprestou-nos dinheiro para nós pagarmos aos credores porque todos os meses Portugal tem empréstimos a vencerem-se e, se falharmos esses pagamentos, entramos em incumprimento - tornando-se mais difícil alguém nos emprestar a seguir. O que se nota é que as medidas da troika, conjugadas com a crise do crédito internacional, estrangularam a economia. Mas o problema não começou na troika nem vai acabar quando a sua ajuda se extinguir.
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Estas condições de austeridade são uma tentativa de credibilizar Portugal. Objetivo de curto prazo: sermos capazes de resolver os nossos problemas sem a ajuda de ninguém. Quem gosta de Portugal não gosta desta ideia? Se tudo corresse bem, lá para o fim de 2013 ou 2014 conseguiríamos ir ao mercado pedir dinheiro a taxas de juro aceitáveis (4%?), sozinhos e talvez sem controlo dos senhores da troika. Possível? O que se ouve dizer é que precisamos de mais tempo e mais dinheiro. Estou de acordo. Mas eu sou a favor da ajuda da troika. Não percebo é como é que as pessoas que são contra a troika querem, em simultâneo, mais dinheiro e mais tempo com eles cá... Eu, como admito a importância destas medidas para o futuro, faria isto mais devagar para não arrasar o tecido económico de forma tão brutal. É que as empresas que morrem em 2012 e 2013 não estarão cá para fazer a superprometida retoma de 2014. Creio que até financeiros ortodoxos já perceberam isso.
Ainda assim Gaspar tem razão num ponto essencial: se não cumprirmos o défice, significará que temos de pedir ainda mais dinheiro do que estava previsto, e já. Infelizmente vive-se há muitos anos em Portugal a pensar que o Estado tem um poço sem fundo para ir buscar dinheiro - e quando não tem, imprime-o, inventa-o, sem consequências. É profundamente falso, e nem a saída do euro nos daria a alegre irresponsabilidade de imprimir notas sem que isso não representasse ficar com mais dinheiro na mão mas a valer cada vez menos.
Outra solução defendida por quem está farto dos atuais apertos: "Não se paga esta dívida e não se pede mais dinheiro lá fora". Parece uma posição coerente. No entanto, estas ideias vêm das mesmas pessoas que, a seguir, pedem ao Estado para gastar mais em apoio social e relançamento económico. Ou seja, exigem, afinal, que o Estado se endivide e faça "crescer" a economia. Como fazer isso sem gerar défice anualmente? Sim, acham o défice/dívida saudável, eterno...
Outra solução: atacar os focos de corrupção e despesismo, estilo "o dinheiro da vigarice do BPN resolveria as reformas de miséria do país". Ora, isto parece certo mas é falso, até porque o "dinheiro do BPN" já está gasto e é comparar um copo de água com o tamanho do rio, por muito venenoso que seja o copo de água... Deve obviamente atacar-se esses focos de corrupção política mas eles não resolvem o essencial: uma economia com poucas empresas exportadoras ou sem credibilidade no rating da dívida do Estado não tem saída a médio prazo.
Há também quem pense que não precisamos de mais empréstimos externos porque, na verdade, o real problema da economia portuguesa é o dinheiro estar mal distribuído. No entanto, constata-se que o Estado Social (Saúde+Educação+Segurança Social) leva 88% dos impostos pagos em Portugal segundo as repetidas contas de Medina Carreira. E faltam todos os outros ministérios, o investimento público, as autarquias, etc.. Ora, o que é que está mal distribuído realmente? Quantos despedimentos e fim de serviços públicos são realmente necessários para aliviar a conta do Estado?
Tudo isto para chegar à Grécia. Quem estiver de acordo com a possibilidade dos gregos não pagarem a dívida, diga se está disposto a perder uma parte das suas poupanças ou a pagar um imposto extraordinário de solidariedade para os salvar. A Grécia precisa da Europa? Contem com o meu cheque. Espero que a Esquerda não queira mandar a conta só para os "ricos". Não há ricos suficientes para salvar países falidos.