A despenalização da eutanásia vai ser discutida no Parlamento. Mesmo que venha a ser aprovada, a Igreja Católica deve continuar a lutar pela vida e pela vida com qualidade, desde a fecundação até à morte natural.
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Não basta à Igreja defender a vida. Tem também de se empenhar em garantir acompanhamento e apoio às mulheres que não querem abortar. Tem de assistir os doentes terminais e melhorar a sua qualidade de vida, intervindo, nomeadamente, na cura das suas dores espirituais, muito mais difíceis de minorar e de tratar do que as dores físicas ou psicológicas. A Igreja deve cuidar dos idosos e proporcionar-lhes uma velhice com sentido.
Muitas vezes, as pessoas que pedem a eutanásia, o que estão verdadeiramente a pedir é que lhes tirem o sofrimento. A eutanásia surge-lhes como a única forma de o conseguir. O que a Igreja tem de demonstrar é que se pode viver a doença e a velhice com uma tal qualidade que não fará sentido desistir da vida.
Várias personalidades da Igreja têm defendido que a eutanásia tira a vida, não tira o sofrimento. Recentemente, numa carta aberta aos parlamentares, D. Nuno Almeida, bispo auxiliar de Braga, defendeu essa ideia e esclareceu que a Igreja, ao condenar a eutanásia, não defende que se mantenha a vida a todo o custo. "Quer a eutanásia, quer a obstinação terapêutica desrespeitam o momento natural da morte (deixar morrer): a primeira antecipa esse momento, a segunda prolonga-o de forma artificialmente inútil e penosa".
Deve ainda a Igreja preparar os seus fiéis para enfrentar a doença e a velhice com uma atitude crente e confiante em Deus que os ajude a viver melhor essas contrariedades e não desistir de viver. Isso dará um sentido ao seu sofrimento. Este, em si mesmo, é um contrassenso, não é querido por Deus, mas pode ser vivido como uma oportunidade de crescimento pessoal.
Há dias, recebi um correio eletrónico de uma pessoa amiga que vive a fase final de um cancro, o qual a deixa cada vez mais debilitada e aumenta de dia para dia o seu sofrimento físico. Contacta com outras companheiras que vivem a mesma situação. Algumas vivem revoltadas e acham que é uma injustiça o que lhes aconteceu. Para ela, é claro que a doença e a morte fazem parte da vida. E, perante uma doença grave, "temos duas opções: abraçar com carinho o que nos vem, porque faz parte da vida e porque certamente nos faz descobrir mil riquezas que temos à nossa volta (o amor daqueles que nos rodeiam, o cuidado de nossos parentes... descobrir o que realmente importa e deixar de lado o acessório... tudo isso são coisas que a doença e o sofrimento nos fazem descobrir); a outra opção é revoltar-se, ficar com raiva, não aceitar... e acho que isso é a coisa mais triste que pode acontecer, porque ao sofrimento causado pela doença soma-se o sofrimento espiritual de se sentir vítima de uma vida que nos tratou mal".
Este tipo de ponderação não se improvisa. É fruto de um crescimento espiritual que a Igreja deve promover nos seus fiéis, quer seja ou não liberalizada a eutanásia.
*PADRE