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O medicamento para o tratamento da diabetes tipo 2, e que tem sido utilizado também para combater a obesidade, estando inclusive na moda entre os atores de Hollywood, afinal pode ter riscos para a saúde. O Ozempic, que praticamente se encontra esgotado em Portugal, assim como outros semelhantes, está a ser investigado pelo comité de segurança da Agência Europeia do Medicamento depois de os islandeses terem relatado casos de pensamentos suicidas e desejos de automutilação em pessoas que os tomaram.
A investigação está centrada nos medicamentos Ozempic, Saxenda e Novo Wegovy, e neste momento as autoridades europeias analisam cerca de 150 notificações de efeitos adversos. Claro está que este tipo de alertas é frequente, mas toda a prudência é pouca, principalmente porque eles apareceram como um “milagre” contra a diabetes e a obesidade. O sucesso foi tão estrondoso, que a farmacêutica que os produz, a dinamarquesa Novo Nordisk, ficou mais rica que o próprio país. Ou seja, ultrapassou o PIB da Dinamarca e já vale em bolsa mais de 385 mil milhões de euros. Em termos hipotéticos, nem toda a riqueza de Portugal daria para comprar a farmacêutica, porque o nosso PIB é de 239 mil milhões de euros.
Este sucesso acontece porque, até agora, todas as linhas de investigação de tratamentos farmacológicos contra a obesidade falharam. E parece que os novos tratamentos aconteceram por acidente, porque todos eles foram inicialmente programados para o controlo da diabetes. O que acontece é que também mostraram alguma eficácia na redução de peso. Dado que a obesidade é um dos maiores problemas de saúde a nível mundial, é previsível que o seu uso se espalhe exponencialmente. Mas por isso é que o princípio da precaução é mais do que justificado. Se for demonstrado que esses medicamentos causam pensamentos suicidas ou desejo de automutilação, além de alertar para tal situação na bula, seria necessário analisar caso a caso se o benefício de tomá-los supera o risco. Perante um problema de saúde como a diabetes, que provoca uma deterioração orgânica com graves consequências a longo prazo, é provável que o balanço seja positivo, mas no caso da obesidade existem mais dúvidas.