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Nunca se consumiu tanta informação como agora. Mas esse consumo não satisfaz as empresas jornalísticas. A crise espalha-se. Ou seja: alto consumo, baixo rendimento. Tudo isto porque a informação deixou de ser um produto jornalístico e este é “pirateado”, dando lucros chorudos aos “detentores” das redes sociais.
A par disso, a desinformação nasce como cogumelos, corroendo alicerces da democracia. Mancha o jornalismo, fio de luz que liga o Mundo. Controlar o jornalismo será asfixiar a democracia.
Hoje, com as tecnologias do simulacro em alta (a IA é top), esse controlo é subtil. Segundo o último relatório da ONG Reporters sans frontières, há “efeitos fulgurantes da indústria do simulacro sobre a liberdade de imprensa”. A intromissão política cresce. Em 2/3 dos países analisados (118) assiste-se a uma implicação dos políticos “em campanhas de desinformação massiva”. O esbatimento das diferenças verdadeiro/falso, real/artificial, factos/artefactos, “põe em perigo o direito à informação”. As capacidades atuais de manipulação “são utilizadas para fragilizar o jornalismo”. As “fake news” parecem espalhar-se mais que a covid que motivou a “emergência sanitária” mundial. São a covid da informação! Desinfodemia?!
Acresce que o “roubo” da produção jornalística pelos gigantes da Internet - Google, Facebook, etc. - é um golpe nas empresas jornalísticas.
Contra a “selvática” lei do mercado, vozes da razão. Na Austrália, o Governo travou os “big tech” na usurpação da informação jornalística. Vergou-os para pagarem a fatura às empresas jornalísticas. Seguiram-se-lhe Itália, Inglaterra e França. Há um longo caminho pelos direitos autorais. Na União Europeia, a preocupação maior está na desinformação, menos na usurpação.
Como agir? Declarar-se o estado de emergência mediática pode ser uma via. Seguindo outras emergências (sanitária e climática) impõe-se que os governos e a UE canalizem recursos para a defesa do jornalismo, pedra angular das democracias.
Como? Algumas pistas:
1. criar medidas imediatas de apoio às empresas, com vista à produção de jornalismo investigativo, rigoroso e plural;
2. abrir linhas de crédito bonificado;
3. negociar com os “gigantes tec” compensações justas pelo uso (e abuso!) da informação jornalística;
4. comprar para as escolas (E. B. 2/3 e Secundário/Profissional) assinaturas de jornais (em papel ou digitais) - nacional/regional - com licenças para todas as turmas - programa governamental de literacia mediática - tal como acontece com licenças informáticas;
5. regular o uso das redes sociais com registo da identidade cidadã, travando “a desinformação”;
6. ativar a regulamentação e a autorregulação do espaço mediático.
Em termos internacionais (UNESCO), impõe-se a assunção da Declaração dos Direitos Humanos como carta magna da ação jornalística.
Se os diferentes poderes quiserem, a emergência mediática vai reforçar o oxigénio das democracias. Asfixia ou utopia?