Um país que vê a sua população crescer de 10 para cerca de 15 milhões de habitantes, se juntar aos que cá vivem mais quase metade que vivem lá fora, é um país que de certa forma continua a ser "do Minho a Timor". Passe a repulsa da origem da citação fica a enorme vantagem de nos espraiarmos pelos cinco continentes normalmente com pergaminhos de imigrantes bem quistos nas terras de destino.
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Muitos criaram raízes e já talvez só pensem vagamente em Portugal mas muitos continuam a financiar-nos com as suas remessas, a querer voltar mal se reformem e, religiosamente, a visitar-nos quase sempre em agosto e quase sempre com ida às terras de origem.
Era assim em Arco de Baúlhe, minha aldeia de Basto e onde durante anos às brincadeiras das férias se juntava sempre o pique de ver chegar algumas famílias que durante o resto do ano viviam em França. Lembro-me da intensa curiosidade que sentia. Queria saber como era viver lá fora. Partia do princípio que era melhor e achava que podia perceber porquê se lhes perguntasse.
Hoje numa escala gigante os altifalantes que antes enchiam de música a rua e a avenida da minha aldeia, rebentam os tímpanos de dezenas de cidades, de praças e de praias num esforço de animação tantas vezes dirigido aos nossos emigrantes.
Mas nunca lhes fazem essas perguntas. São mesmo formatos muito pouco genuínos a roçar o vulgar e, sobretudo, a fazerem perdurar uma imagem e uma abordagem destes nossos compatriotas que já muito pouco se lhes cola.
O fenómeno da emigração há muito que descolou da viagem a salto, de gente sem qualificações que se dispunha a ocupar a base da pirâmide social dos países de destino.
Hoje misturam-se os casos, na esmagadora maioria bem-sucedidos, desses emigrantes do terceiro quartel do século vinte, com a segunda e terceira gerações e ainda com uma geração mais recente que foi saindo, por opção ou nem por isso, mas que socialmente começa onde os outros, os primeiros, ainda agora estão a chegar.
Somos todos portugueses, uns lá fora, outros cá dentro.
Ou seja, é altura de dar uma conotação ampla à palavra "emigrante" e de deixar de fazer engolir aos seus destinatários de agosto um discurso televisivo e um sentido comum mais ou menos boçal.
Sim, porque aos que partiram em tempos e posição económico-social mais vantajosa chamamos "Portugueses lá fora" ou "Portugueses pelo Mundo". Têm direito a documentário e apresentações interessantes das realidades que conhecem.
É imperativo ir a fundo e sem preconceitos na procura de um país que saiu, trabalhou, venceu, regressou ou ficou, mas que é sobretudo uma rede absolutamente excecional. Na defesa dos nossos interesses, na forja de novas ideias, na expansão do nosso mercado. Na ciência, nas empresas, no associativismo, na política, nas artes.
Mas mesmo que queiramos destacar a sua presença entre nós, de forma mais expressiva, a cada agosto, conheçamo-los a sério. De onde são? Como veem a vida das suas terras? O que mudariam? O que estariam dispostos a fazer para ajudar? E não são perguntas para serem feitas pela e na TV. Mas para serem feitas pelos responsáveis políticos e pelos protagonistas da vida em cada uma das comunidades. Quantos presidentes de Câmara ou de Junta acolheram os seus emigrantes com verdadeiro sentido cívico de integração e de prestação de contas democrático (tantos são eleitores)? Quantos lhes falaram do património das suas terras e lhes deram hipótese de dar ideias ou de participar num programa de mecenato? Ou lhes falaram de educação e pararam para ouvir a sua experiência noutros sítios? Ou partilharam problemas sociais e tomaram boa nota de como em regra tão bem se organizam em práticas de solidariedade?
Dêmos um passo atrás e façamos um esforço para abraçar um país que tem 14 ou 15 milhões de nacionais, a falar todas as línguas e a viver em todos os continentes. Habituemo-nos a querer dar e tirar o melhor de todos num amplo exercício de cidadania. Com exigência e seriedade. Não só em agosto.
Deste, espera-se o pior! Dá-se o caso de termos eleições em Setembro.