Já não bastava trabalharem longe de casa, a grande maioria por falta de opção dentro do país, como ainda são desrespeitados pelo Estado. A classe política acaba de validar um ato de desconsideração democrática que atinge um milhão e meio de portugueses emigrantes.
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É muito fácil encontrar dezenas de argumentos para justificar a rapidez com que se formalizou o XXII Governo Constitucional, quando existe apenas um para explicar por que razão teria sido mais sensato esperar, vá lá, dois dias: os votos só hoje ficam todos contados. Faltavam, claro está, os referentes aos dois círculos da emigração, que se traduzem na eleição dos quatro deputados que completam o quadro parlamentar. Não assumindo grande relevância a distribuição pelos partidos, que em nada afetará o equilíbrio de forças no Parlamento, os votos dos emigrantes foram encarados como uma formalidade. O problema é que, em democracia, os votos de quem está fora do país têm de valer tanto como os outros. Na realidade, até valem. Na leviandade política, não valeram. Sem necessidade nenhuma e correndo-se o risco de a comunidade portuguesa no exterior engrossar ainda mais a abstenção, pois, com legitimidade, poderá sempre questionar-se: "Votar para quê". Acresce que o processo de receção e envio dos boletins, como confirmou a própria Comissão Nacional de Eleições, conheceu problemas que, se não estivéssemos a falar de matérias sérias, só davam mesmo para rir - ao nível de os boletins não caberem no envelope que os acompanhava para posterior devolução.
Esperemos que não se repitam, nem as trapalhadas logísticas, nem as faltas de respeito, não vão os emigrantes lembrar-se que, para os políticos, só são portugueses na hora de fazer contas às remessas de dinheiro provenientes do exterior.
*Editor-executivo