O desplante exibido perante a Assembleia da República tem sido uma constante das comissões de inquérito que avaliam os negócios ruinosos do Estado. O Parlamento é um órgão de soberania e merece respeito. Um empresário é suposto ser uma pessoa digna. Isto no plano dos princípios. Na vida real, mandam muito mais a impunidade e a falta de vergonha.
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É quase impossível rever-me politicamente nas posições de Mariana Mortágua, colega nas páginas de opinião do JN. Ora, havendo momentos em que quase me identifico com o seu desempenho, isso só pode significar que algo está errado. E o problema não é meu. Nem de Mariana Mortágua. O problema é que a passagem de "gestores" e "empresários" pelas comissões parlamentares de inquérito é absolutamente indecorosa para uma sociedade que se desejaria civilizada.
Filipe Vieira e Moniz da Maia são os casos mais recentes de descaramento e na forma de tratar os portugueses por parvos. Os mesmos que, por via fiscal e através da redução de investimentos e apoios públicos, ainda pagam (e pagarão) a gigantesca destruição financeira do BES e do Novo Banco. Os mesmos que ouvem os senhores, geradores de enormes perdas naquelas "instituições", fingirem que não se lembram, que não foram informados, que não participaram nos "negócios" que levaram aos resgates.
Num Parlamento que se desse ao respeito, Vieira e Maia (como, antes deles, Salgado, Bava ou Granadeiro) não se atreveriam à brincadeira. Numa democracia moderna, este tipo de processos já estaria julgado e os infratores condenados. Como empresário, não me reconheço nestes comportamentos indignos. Como presidente da mais antiga associação empresarial do nosso país, entendo que esta gente dá mau nome a uma classe séria, trabalhadora e honrada. Não são dignos pretender arrogar-se da mesma ocupação de um Belmiro de Azevedo, um Américo Amorim, um João Macedo Silva ou um Alexandre Soares dos Santos. Esta gente é uma vergonha.
Empresário e Presidente da Associação Comercial do Porto