Os bispos portugueses decidiram criar uma comissão para fazer o apuramento dos casos de abusos sexuais de menores e de adultos vulneráveis cometidos por religiosos católicos no país. A reflexão sobre esta chaga que tem desfigurado o rosto da Igreja nas últimas décadas foi, na semana passada, o tema dominante dos trabalhos da Assembleia Plenária da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP).
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Foi uma decisão tomada por unanimidade, o que revela sintonia no episcopado português para afrontar este problema com determinação. No início dos trabalhos, o presidente da CEP, D. José Ornelas, bispo de Setúbal, já tinha anunciado que os bispos iriam fazer tudo "para proteger as vítimas, apurar a verdade histórica e impedir estas situações dramáticas que destroem pessoas e contradizem o ser e a missão da Igreja". Não era expectável que se avançasse tanto, pois poucos tinham sido os bispos, como o cardeal D. António Marto, a expressar com clareza o seu apoio ao esclarecimento cabal da situação dos abusos em Portugal.
No final da assembleia, os bispos, pela voz do seu presidente, comprometeram-se a enfrentar a questão com "honestidade", "sem medo" e garantindo uma "real independência" a essa comissão. Esta, para além do apuramento da verdade, irá "reforçar e alargar o atendimento dos casos e o respetivo acompanhamento a nível civil e canónico".
Ainda não foi revelada a constituição da comissão. Deve ser bem ponderada a sua composição e, sobretudo, a personalidade que orientará os seus trabalhos.
Para salvaguardar a sua independência, deverá ser um leigo e não um clérigo. Terá de ser uma pessoa com uma reconhecida formação jurídica para garantir o rigor da investigação. E muito se ganharia se essa presidência fosse assumida por uma mãe. Acrescentaria uma sensibilidade muito própria à avaliação dos casos.
Saúda-se e aplaude-se a coragem dos bispos, tal como a sua preocupação em evitar suspeitas no "apuramento histórico desta grave questão". A constituição da comissão deve ser rápida e contar com peritos avalizados das áreas das ciências humanas e sociais que garantam o seu rigor científico.
Padre