Ontem o futebol português viveu um daqueles momentos mágicos que fazem as pessoas ficar dentro do estádio mesmo depois do jogo acabar. O F. C. Porto tinha conseguido uma vitória quase impossível contra uma equipa alemã recheada de estrelas e tinha-o feito de uma forma sagaz.
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Quem viu o jogo pôde perceber que, mesmo que estivessem em campo os mesmos jogadores vestidos de azul e branco, aquele não era um F. C. Porto normal. A equipa portista gosta de ter posse de bola e ontem o que fez foi conter o jogo alemão e espreitar a melhor oportunidade para desferir os seus golpes letais. Foi pensado, foi treinado, bastou ver o que aconteceu no lance que deu o penálti e no golo marcado por Quaresma.
Por esta altura, os leitores interrogam-se se esta é uma crónica desportiva. Não é. Foi a ideia deste jogo tático que me ocorreu quando vi hoje assomar o rosto de Maria Luís na televisão. Independentemente da avaliação que se possa fazer sobre as propostas do Governo, o que a ministra das Finanças mostrou é que é o Executivo que continua a controlar o jogo (a agenda) e a Oposição nem tem bola, nem a consegue roubar no momento certo. E isto é especialmente complicado no caso do PS, o partido mais bem posicionado para ser a alternativa à atual maioria.
Quando Costa assumiu a presidência do PS enganei-me em dois juízos que fiz. Um era que ele, em pouco tempo, iria abandonar a Câmara de Lisboa, o outro é que, ultrapassada a disputa com António José Seguro, conseguiria unir o partido. Sendo uma personalidade conhecida, com um longo currículo político e a pouco tempo das eleições, não me parecia que o palco autárquico fosse necessário. Mais, sabia que a Autarquia de Lisboa passaria a ser escrutinada de uma forma intensa, com evidentes riscos políticos. Eu enganei-me na previsão, mas o erro foi de Costa.
Quanto à união do partido, a minha ideia era que o aproximar da possibilidade do PS regressar ao poder ajudaria a aplacar quaisquer divisões. Também me enganei, se olharmos para o que aconteceu com o recente episódio de Sampaio da Nóvoa ou com as disputas que ainda lavram em algumas concelhias. Mas o erro continua a ser de António Costa, que tem falhado em passar para os seus seguidores uma dinâmica de vitória e o melhor barómetro disso é a dificuldade em marcar a agenda.
Seja controlando o jogo com os seus temas ou roubando a bola ao adversário quando ele menos julga possível é isso que se espera de um líder da Oposição. E Costa tem ainda mostrado alguma dificuldade em jogar como o F. C. Porto.