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1. Foi um dos "sound-bytes" da semana que passou. "O Cavaco é um ditador", atirou Belmiro de Azevedo, numa entrevista à "Visão". E o que leva um dos homens mais ricos de Portugal a catalogar com semelhante insulto o presidente desta República que se julgava democrática? Mandou para a rua, "de mão directa", quatro ministros "dos melhores", que, por mero acaso, eram amigos de Belmiro. Quem imaginar, neste ataque a Cavaco Silva, um empurrãozinho a Manuel Alegre, pode tirar daí o sentido. Ser poeta não é credencial que se apresente e o melhor é "ter juízo". Mas se Belmiro de Azevedo não tem grande apreço pela classe política portuguesa, o mesmo não se pode dizer quando lhe falam de Angola. "Não há democracias perfeitas. Não podemos ser superpuristas", diz o patrão da Sonae. Um pouco de relativismo moral não faz mal a ninguém. Sobretudo quando há "empatia" e se está "a negociar".
2. Estavam a gripe e o medo da gripe a propagar-se e Teresa Forcades, monja e médica catalã, denunciava os interesses económicos das grandes farmacêuticas. Acusava a Organização Mundial de Saúde (OMS) de "irresponsabilidade" por declarar a pandemia e provocar o pânico global e apelava à rejeição de vacinas que usavam adjuvantes perigosos. Foi classificada como uma lunática, dessas que conquistam fama rápida, mas efémera, na Internet. Meses depois, ouvem-se as mesmíssimas acusações, mas no Comité de Saúde do Conselho da Europa. É verdade que não se provou a promiscuidade entre a OMS e as farmacêuticas. Mas sabe-se que o lucro adicional com as vacinas para a gripe A terá sido de cinco a sete mil milhões de euros. O que parece ser um adjuvante poderoso na promoção de uma vacina.
3. As contas são simples. Em 2010, o Estado vai receber 67 mil milhões de euros e gastar 81 mil milhões de euros. Num só ano, um défice de 14 mil milhões de euros. Um cenário que já se repete há muitos anos e que vai prolongar-se por outros tantos. E o que faz o Governo para evitar a bancarrota? Poupa 400 milhões de euros com o congelamento dos salários da Função Pública, mas gasta mais 420 milhões de euros com despesas de pessoal, só no Ministério da Educação. Corta em novas estradas, mas mantém a linha de TGV entre Lisboa e Madrid, por acaso aquela que mais prejuízo vai acrescentar às finanças públicas. E quais são as propostas dos partidos da oposição? Nenhumas. PSD e CDS-PP fazem de conta que negoceiam, porque não querem correr o risco de provocar eleições antecipadas. O BE e o PCP fazem de conta que o défice não é um problema. Há uns anos, a solução poderia ser a de dar o salto para Espanha. Só que agora, "nuestros hermanos" têm uma taxa de desemprego de 20% e a idade da reforma passou para os 67 anos.