Militares da Banda do Exército, nostálgicos do PREC e dos juramentos de bandeira feitos de punho fechado, a prometer a defesa do proletariado e da revolução socialista, participaram numa manifestação da extrema-esquerda, em solidariedade com a ditadura de Nicolás Maduro.
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Lamentarão que Portugal não se tenha transformado numa Venezuela de brandos costumes e sem petróleo, logo mais pobre. Tocaram, imunes aos presos políticos, agressões e mortes, à falta de medicamentos, de comida nos supermercados e à negação de direitos básicos a um povo inteiro. Dias antes, é sabido, tinha sido furtado armamento pesado em Tancos.
Catalogar as Forças Armadas por dois acontecimentos deprimentes, seria injusto. Os militares portugueses escrevem há séculos, com sentido de honra e dever, algumas das páginas mais extraordinárias da nossa história. Foram quem interveio para evitar a deriva totalitária tentada em 1975. Resquícios exóticos que teimam subsistir, são só exceções que confirmam a boa regra. Mas até por isso, o que é realmente grave, não pode ser ignorado, sequer relativizado, pelos militares a começar.
Não vai muito tempo, cumpríamos serviço militar obrigatório, doutrinados na certeza de que a perda da velhinha G3, "namorada" forçada das contingências do recrutamento, implicaria o mais pesado castigo. Virado o século, argumentar com o desinvestimento para justificar o desaparecimento de armamento dos paióis é simplesmente inaceitável.
Guardar com segurança armas em tempos de paz é uma obrigação básica dos militares. Uma guarda capaz, revezada em turnos, em quartéis com centenas de soldados, mais sabendo-se avariado o sistema de videovigilância, traduz um mínimo de exigência indiscutível de teorizações a propósito do dispêndio, como se de missões externas, reequipamento militar, ou de renovação de infraestruturas se tratasse.
Em processo de negação, o CEMGFA e o primeiro-ministro argumentam que o material furtado estava velho e valia pouco. Impressiona que não se perceba o absurdo e a irresponsabilidade do argumento. Delinquentes ou terroristas não furtam granadas ofensivas ou explosivo plástico a pensar nos cortes ou nas cativações do Governo. Furtam, porque matam. Desvalorizar o facto, só pode deixar-nos muito mais preocupados.
Ajudando à festa, Vasco Lourenço discorre na teoria de que as armas não foram realmente furtadas - desapareceram ao longo do tempo - e não se sabe quem, mancomunado com a Direita, abriu buracos numa rede para atacar agora, cirurgicamente, o maravilhoso Governo da "geringonça". O comentário a tamanho disparate não cabe em 2500 carateres.
* DEPUTADO EUROPEU