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A Universidade do Porto foi uma das universidades europeias que mais contribuíram para a criação de empresas spin-offs de base científica e tecnológica entre 2017 e 2023. De acordo com os dados publicados no recente relatório Spin-offs: Driving innovation across the EU-27, a U.Porto integra a lista das dez universidades mais inovadoras da União Europeia com 89 empresas criadas a partir da transferência de conhecimento e inovação do seu meio académico.
As empresas spin-offs universitárias são resultado da sinergia entre a investigação científica e a ação empreendedora, e potenciadoras da transformação de conhecimento académico em valor real para a sociedade. O método científico, onde se suportam muitas das ideias destas empresas, partilha muitos pontos comuns com o empreendedorismo. Ambos partem de incertezas, formulam hipóteses, testam-nas em laboratórios ou no mundo real, e estruturam respostas com novas variáveis que permitirão continuar um ciclo iterativo de acumulação de conhecimento.
Apesar de no contexto europeu este perfil de empresas apresentar taxas de insucesso menores que as start-ups tradicionais, existem obstáculos a nível institucional que ainda limitam a sua competitividade e escalabilidade. É essencial reforçar continuamente as estruturas de apoio ao empreendedorismo, para valorizarmos o conhecimento gerado nas universidades, e sustentar a extensão do ecossistema científico sob a forma de negócios e empresas spin-offs. Ao mesmo tempo, é necessário ter uma ambição acrescida para pensar e implementar medidas estratégicas que ajudem a criar e a transferir o conhecimento científico, a tecnologia, e a propriedade intelectual de forma desburocratizada, e adaptável às exigências de comercialização do mercado.
Num país cuja população tem um perfil conservador na sua relação com o risco, talvez possa este modelo de empreender ajudar a realizar pontes, mais seguras e estruturadas, entre as ideias de laboratório e a sua respetiva aplicabilidade em mercados reais. O pensamento e as ferramentas científicas, produto do conhecimento académico e investigação portugueses, têm a potencialidade de ser promotores da redução da incerteza e das variáveis de insucesso nas start-ups. Coloca-se, no entanto, a questão sobre a velocidade com que conseguiremos, de forma sustentada, realizar a transformação deste conhecimento em spin-offs, cujo papel se prevê fundamental na capacidade inovativa portuguesa e europeia dos próximos anos.