Há uma semana, os alunos da Escola Secundária 2.º e 3.º Ciclo do Ensino Básico Clara de Resende, percecionada como uma das melhores do Porto, ficaram à porta. Lá dentro, alguém, ou alguéns, trabalhou com afinco na noite anterior para dispor mesas e cadeiras pelos corredores fora.
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As tarjas no exterior apelando à luta dos professores compunham o ramalhete.
Três dias depois, nas comemorações do 10 de junho, eram os cartazes com caricaturas de António Costa, um focinho de porco e lápis enfiados nos olhos, que seguiam o primeiro-ministro com uma vozearia de protesto.
O que une estas duas imagens? A irritabilidade, a saturação, uma profissão em decadência e sem atratividade, carreiras estagnadas, o desnorte das políticas educativas. Mas, sobretudo, a falta de bom senso.
É inegável hoje a degradação da escola pública e a sucessão de problemas que se arrastam de Governo em Governo. E que a missão de ensinar, como princípio basilar que faz da Educação o único e verdadeiro elevador social, de espelho da igualdade de oportunidades, sobrevive assente no trabalho de professores empenhados em fazer aquilo para que se prepararam.
A escola faz-se para estudar, para se saber mais, para se progredir, para criar laços, para formar mulheres e homens melhores, em primeira e última análise, para ser motor de transformação social.
É justamente por tudo isso que se torna incompreensível, mas profundamente preocupante, que a radicalização da vida pública portuguesa esteja a invadir o espaço do livre pensamento e da aprendizagem. Um movimento para o qual seguramente concorrem múltiplos fatores, há sucessivos anos, mas que parece agora evidenciar-se de forma inequívoca.
E não se trata aqui da justeza das reivindicações da classe docente, ou dos funcionários. Muito menos do direito à greve, apesar dos evidentes prejuízos para crianças e jovens, que já somam três anos atípicos e facilitistas.
Trata-se de ensinar pelo exemplo.
*Diretor-Geral Editorial