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Estava tentado a escrever opinião sobre o que se passa na minha Universidade do Porto, mas, contrariamente aos que se expressam com rapidez, perdi alguns minutos a tentar perceber o assunto. Assim, embora continuem a merecer-me simpatia a atitude do reitor e a defesa da legalidade, por oposição à postura ameaçadora do ministro, prefiro não entrar por esses caminhos. Aquilo é pura politiquice.
Necessitava, pois, de outro tema, e tenho, como todos, passado os últimos dias sob o impacto emocional da tragédia no lisboeta Elevador da Glória. Quero, claro, que se determinem causas e se apurem responsabilidades, na esperança de que possa fazer-se melhor e não numa perspetiva de vingança contra o mundo, própria de quem recorre a frases feitas como "a culpa não pode morrer solteira", talvez com pena de não poder acorrentar gente a pelourinhos ou levá-la ao patíbulo. Mas incomoda-me a pressa, ou a urgência, que surge em dois patamares: o político e o mediático.
A pressa política é fácil de entender. Há eleições autárquicas ao virar da esquina, e os intervenientes nessa luta encaram a tragédia humana como um facto político, que, para bem ou para mal, será tido em conta no combate que se avizinha (que está em curso). Já o patamar mediático assenta em muitas causas, entre as quais avulta não tanto a concorrência, mas o exagero que resultou, primeiro, das estações televisivas de notícias a emitir continuamente e, depois, de um fluxo informativo digital humanamente impossível de processar. Hoje, os eventos de grande impacto são noticiados e escalpelizados jornalisticamente até à exaustão, pondo as pessoas ansiosas.
Vi o portuense Funicular dos Guindais, que muito bom jeito me dá, a ser referido num canal televisivo (de forma difusa) como algo que funciona desde 2004 mas existe desde finais do século XIX. Ora, o primeiro elevador encerrou em 1893, após um acidente sem vítimas mortais, e nunca reabriu. O atual, que é novo de 21 anos e será sujeito a uma auditoria (a entidade responsável tem de dizer que está a agir, nem se apercebendo de que sugere que o não faz regularmente), nada tem a ver, além da localização, com o elevador inaugurado em 1891.
Enfim, também não é grande assunto. Na verdade, nada me entusiasma tanto, agora, como o brilhante desempenho de João Almeida na Volta a Espanha. Impressiona-me, alegra-me e comove-me, de tal forma que nem sei o que escrever.