Estamos a 18 meses daquilo a que a revista "The Economist" chama "um dos maiores festivais de bílis e desinformação do mundo" ou, como nós lhe chamamos, as eleições norte-americanas. E, com ou sem intervenção de "trolls", as redes sociais voltarão a ser fulcrais para decidir o próximo inquilino da Casa Branca, num momento em que até os anúncios de candidatura passam de um palanque em frente a um multidão, para um palco virtual no Twitter. E quem controlar as redes, controla o futuro dos EUA e do Mundo.
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Quando no Reino Unido e na Europa já há legislação apertada prestes a entrar em vigor para prevenir campanhas de desinformação e disseminação de conteúdo nocivo, será difícil que nos EUA democratas e republicanos se entendam a tempo, quando uns querem apertar o cerco e outros abrir os portões. Não é difícil perceber por que razão assim é: por muitas teorias da conspiração que haja dos dois lados da barricada, investigações mostram que são os ultraconservadores e a extrema-direita os mais propícios a este tipo de conteúdos. Olhando para o alinhamento republicano e vendo Marjorie Taylor-Greene, rainha da desinformação e putativa parceira de candidatura de Trump, percebemos por que motivo a moderação é inoportuna no lado direito.
Mas a questão é mais complexa e difícil de equilibrar do que poderia parecer. Queremos que sejam Zuckerberg e Musk (que, apesar de ser o paladino da liberdade de expressão, foi a correr obedecer à censura imposta pela Turquia) a decidir o que é conteúdo nocivo ou desinformação? Por outro lado, um Estado pode decidir o que é informação e desinformação? Se há conteúdos obviamente ilegais, como pornografia infantil, como se define uma fronteira entre liberdade de expressão e conteúdo impróprio? Temo que não haja uma solução e que só possamos ter alguma paz de espírito quando as redes deixarem de lucrar com este conteúdo, que gera tráfego, interações e visibilidade. Até lá, estamos entre o lápis azul e a parede.
*Jornalista