Entre o poder e a palavra: os desafios da comunicação política
Corpo do artigo
Este será um ano de intensa atividade política: a nível local, multiplicar-se-ão listas para as eleições autárquicas; a nível nacional, os partidos definirão o seu candidato presidencial e o Governo procurará fortalecer uma equipa onde há já membros em equilíbrio precário. O desafio maior será encontrar discursos capazes de convencer o eleitorado e, se não for pedir muito, elevar a qualidade de uma política que se vem declinando em registos demagógicos, frequentemente inconsistentes.
Num ambiente comunicacional que multiplica canais, os políticos expõem-se em permanência ao desafio da palavra mediática. E isso coloca-os num palco que poderá denunciar diversas fragilidades: incapacidade de comunicação, impreparação técnica nas pastas que lideram, inabilidade no confronto com a Oposição... Para melhor perceber os riscos que correm, podem espreitar textos de autores como Shanto Iyengar, Zizi Papacharissi, Pippa Norris, Kathleen Hall Jamieson, Diana Mutz, Esser e Strömbäck, ou então outros que conquistam hoje uma grande quantidade de leitores, como Yuval Noah Harari, Byung-Chul Han ou Daniel Innerarity. Aí, encontram-se fundamentos que ajudariam muito a uma integração equilibrada da comunicação na atividade política em diferentes contextos. Para além da máxima de que comunicar bem não significa estar sempre a falar, revela-se aconselhável investir no domínio conceptual e metodológico dos dossiers sobre os quais são chamados a falar. Nada pior do que ouvir um discurso político que ambiciona comunicar decisões sobre determinadas matérias pejado de lugares-comuns, por vezes até mesmos desajustados.
Com a aproximação das eleições autárquicas e, consequentemente, com a necessidade de se criarem listas para as câmaras e as assembleias municipais e para as juntas de freguesia, não se espera que os partidos consigam recrutar os melhores de um município. Acresce o facto de que esses lugares apresentam remunerações incapazes de atrair quadros que, pelo seu trabalho, são bem pagos. Isso é um gravíssimo problema do poder local que se reflete na (má) escolha daqueles que são chamados a gerir órgãos autárquicos.
As eleições presidenciais estão noutro patamar. Ocupando o mais alto cargo da nação, a Presidência da República exige outros perfis. Esse refinamento deveria também ser uma regra no recrutamento dos governantes que, no entanto, nem sempre se cumpre. Num ano em que se escolhem candidatos para Belém e em que o PM terá, decerto, de reestruturar a sua equipa, que haja capacidade para selecionar alguns dos mais capazes. Perceberemos isso depressa. Basta começarem a falar...