A nossa sociedade oscila entre a proclamação das virtudes da nova geração, exaltada como a "geração mais bem preparada de sempre", e a condenação da sua ignorância. No primeiro caso, trata-se de constatar os resultados do acesso generalizado à educação; no segundo, lastima-se o desconhecimento dos valores e interesses comuns entre os mais velhos.
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Os pressupostos de cada uma destas posições tem consequências nas respetivas representações e nas decisões assumidas, por exemplo, no ensino, nas estratégias culturais e nas políticas de emprego, a par dos relacionamentos quotidianos, nomeadamente no seio das famílias em que acresce o facto de os descendentes terem muitas vezes um patamar escolar mais elevado do que o dos seus progenitores.
Vale a pena recorrer à memória histórica e recordar, entre muitos outros casos, o teor da inscrição encontrada, há mais de 3000 anos, num vaso de argila das ruínas de Babilónia. Nela pode ler-se que "os jovens são malfeitores e preguiçosos" e que, por isso, "não serão nunca como as gerações anteriores, sendo incapazes de manter a nossa cultura". Ou as palavras de Hesíodo que, no século VIII a. C., reconhecia não ter qualquer esperança no futuro "se a geração de hoje assumir as rédeas do poder amanhã porque esta geração é insuportável, desenfreada, simplesmente terrível". Ou ainda o desalento de Aristóteles ao afirmar que "os nossos jovens gostam do luxo, têm procedimentos inconvenientes, fazem pouco da autoridade e não têm qualquer respeito pela idade dos mais velhos". Poder-se-ia multiplicar os exemplos de um persistente mal-estar intergeracional......
Atualmente, a nova geração é a dos "nativos digitais", dos que vivem o quotidiano desde sempre e sistematicamente com a Internet e as redes sociais. A quantidade e fluidez das informações acarreta uma redução do tempo de atenção dedicado a cada uma delas. Com novos referenciais e códigos, esta geração enfrenta também os desafios de uma sociedade plena de contradições que, exaltando formalmente a juventude, não lhe proporciona os necessários instrumentos de realização pessoal e profissional. Entretanto, Oscar Wilde, com a sua interpelante lucidez, reconheceu que "a nova geração é terrível" mas para logo acrescentar que "gostaria imenso de fazer parte dela"...
ISCET - Instituto Superior de Ciências Empresariais e do Turismo/Obs. da Solidão