Passos Coelho jura que não formará governo com Sócrates. Nem com o PS. Portas também não. Pelo menos com Sócrates. Passos não quer formar governo com Paulo Portas. Quer maioria absoluta. Sem "paus-de-cabeleira". Portas espera poder desempatar. Quer ser primeiro-ministro. Provavelmente, entre os dois, PSD e PS, sem Sócrates e sem Coelho.
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Sócrates, por ora, não manifesta relutâncias destas. Mas como eles não querem, não tem probabilidades de formar governo, nem com Passos, nem com Portas. Bloco e PC não formam governo com qualquer um destes partidos. A não ser que o PS faça uma curva de 180 graus e ocupe "o seu histórico lugar à Esquerda". Aí, tudo começava também do zero. Sem essa coisa de acordos com a troika do BCE, FMI, EU. Provavelmente, era uma nova revolução sem cravos. Viria, por certo, um outro qualquer Kissinger para nos ameaçar expulsar da Europa. Ou pelo menos do euro, já que, geograficamente, só um profundo abalo sísmico pode ter esse catastrófico efeito.
Quer dizer, em relação à previsibilidade de formação de governo, estamos na estaca zero. Ou melhor, abaixo de zero. Não será grande novidade, pois ao longo dos tempos tem-se comprovado: Portugal é um país ingovernável. Toda esta jigajoga, como estratégia eleitoralista, percebe-se. Como propósito para tirar o país do buraco em que está ou como medida para cumprir com o sufocante acordo não se percebe. Sem amplo entendimento parlamentar, vamos ser gregos, passar a fazer referendos, dia sim, dia não. Portugal, mais do que nunca, sofre de uma acesa luta partidária.
É expectável que este impasse se esbaterá logo a seguir aos resultados de 5 de Junho. Pós-eleições, todos começam a engolir pequenos e grandes elefantes. E as ameaças de agora esfumam-se como fogo-de-artifício em noite sem estrelas. Se o líder perdedor se retirar, o jogo volta ao princípio. Caso contrário, as palavras de Manuela Ferreira Leite, "suspenda-se a democracia por seis meses", deixam de ser sugestão. Viram profecia.
Dizem que o povo nos votos resolverá esta equação. Mas, pela amostra da campanha, mais própria do Terceiro Mundo, e como até agora as sondagens expressam, o povo deve andar bastante baralhado. E se neste acto de eleições de democracias envergonhadas os resultados costumam acima de tudo "castigar" os executivos do Poder (veja-se o exemplo da vizinha Espanha ou da poderosa senhora Merkel), dias e dias de campanha nada têm ajudado a desfazer as dúvidas sobre quem nos deve governar.