Haverá um dia de luto nacional para cada morte que se segue? Percebe-se a homenagem que o Governo quer prestar aos mortos, em cemitérios vazios no Dia de Finados e, em particular, às mais de 2200 vítimas mortais da doença de covid-19. Entende-se o ato. Mas quando assistimos a algum desnorte e contradições nas medidas de combate à pandemia, a homenagem marcada para dia 2 de novembro poderá ser lida como mais um momento de marketing político.
Corpo do artigo
É também um erro de agenda. Com a generalidade da população cansada, adivinha-se alguma contestação à limitação de circulação entre concelhos do continente de 30 de outubro a 3 de novembro. As populações vão acatar as orientações de forma pacífica, já deram prova disso no passado. Porém, o descontentamento será natural e legítimo. Um dia de homenagem aos familiares mortos e às vítimas da covid-19 celebrado numa espécie de confinamento concelhio é discutível. Não se fazem homenagens via televisão ou via Zoom.
Ontem não se conhecia ainda a agenda oficial para esse dia. Além das bandeiras a meia haste nos edifícios públicos, é provável que sejam realizadas cerimónias e proferidos discursos oficiais. Estaremos, com toda a certeza, apenas perante um dia político. É pouco, muito pouco para quem merece uma homenagem muito maior. Também insuficiente para aqueles a quem não foi permitido marcar presença nos funerais dos seus entes queridos e agora não pode ir ao cemitério prestar homenagem a quem já partiu.
E tardia também. O que confere ao calendário essa marca algo oportunista. Espanha, por exemplo, declarou ainda em maio 10 dias de luto oficial em memória dos mortos. O perdido Brasil quatro dias em agosto. Decretar e misturar um dia de luto nacional entre medidas especiais, como a obrigatoriedade do teletrabalho, dever de permanência no domicílio, restrições à circulação, entre outras, confere-lhe apenas um símbolo habilidoso.
Diretor-adjunto