De todos os estudos de opinião publicados nos últimos tempos retira-se a mesmíssima conclusão: Pedro Passos Coelho é um primeiro-ministro sortudo. Não obstante viver a reboque de uma crise económica, financeira e social sem precedentes, o Governo mantém índices altos de popularidade e para os quais há duas explicações simples: por um lado, o povo interiorizou a necessidade de se sacrificar na tentativa de o país se escapulir da bancarrota e, por outro, a oposição à coligação PSD-PP surfa entre o bota-abaixo sistemático e irrealista do PCP e do BE e o estado abúlico e sofrido de um Partido Socialista marcado pela orfandade socrática e a não afirmação da nova liderança.
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A inexistência de alternativas credíveis tem sido, pois, um precioso auxiliar -tanto mais vincado quanto já é hoje possível dispor da certeza de erros crassos cometidos pela governação e de entre os quais a falta de coordenação política é apenas um deles.
Os oito meses de Governo têm já uma marca impressiva: o afã de constituir uma equipa ministerial muito curta confirmou o risco de inexistirem super-homens para pastas de competências imensas e, além de atrasar decisões por ter implicado a realização de novas leis orgânicas, tinha tudo para redundar em mais demagogia do que eficiência.
Hoje, de facto, já poucos terão dúvidas sobre o mau organigrama concebido para o Governo.
Mesmo levando em linha de conta as idiossincrasias de cada um dos ministros, fica difícil acreditar na capacidade de alguém poder gerir com eficácia um ministério no qual cabem a Agricultura, o Mar, o Ambiente e o Ordenamento do Território, ou um outro focalizado na Economia, Emprego, Transportes, Comunicações e Obras Públicas. Isto é: nestes dois casos, por exemplo, está provado ser uma impossibilidade Assunção Cristas ou Álvaro Santos Pereira poderem dar conta do recado, independentemente de serem mais ou menos virtuosos políticos. Aliás, vivendo o país numa espécie de "estado de guerra", nem se percebe muito bem como Finanças e Economia não ficaram debaixo de um mesmo guarda-chuva - o que também evitava a polémica que por aí vai, agora a propósito do controlo dos milhões de euros do QREN e a aparente lógica de Vítor Gaspar ter de dizer de sua justiça na respetiva gestão....
Mais do que escolher os mesmos personagens, Pedro Passos Coelho voltaria hoje a constituir um executivo tão minimalista?
Seria uma tontice esperar uma confissão de erro do primeiro-ministro. E estando o Governo em funções há ainda tão pouco tempo não é sequer crível passar pela cabeça de Pedro Passos Coelho uma remodelação a curto prazo. Assim como assim, focado no cumprimento do plano de resgate financeiro de Portugal, tenderá a ir gerindo por mais algum tempo os danos provocados pelos erros de "casting" de elementos da sua equipa. Uma tarefa facilitada pela falta de oposição credível.
