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Este mês, milhares de crianças regressam à escola. No meio das mochilas pesadas, dos horários apertados e da ansiedade dos reencontros, esquecemos frequentemente algo essencial: a cidade que as recebe. As nossas ruas continuam a ser planeadas sobretudo para os carros, quando deviam ser pensadas para a escala dos mais pequenos.
O caminho para a escola devia ser a primeira experiência de autonomia, amizade e descoberta do bairro e da sua cidade. Mas a realidade é outra: passaram a ir de carro, estão nas filas do trânsito sob buzinas, poluição e pressa. As crianças deixaram de andar a pé, de brincar e de observar o Mundo. Essa ausência de mobilidade não é só física, hoje é também emocional.
A Organização Mundial da Saúde alerta que os problemas de saúde mental em crianças e adolescentes são frequentemente negligenciados. Cerca de 1 em cada 7 jovens, entre os 10 e os 19 anos, sofre de ansiedade, depressão ou distúrbios de comportamento. Pais, cuidadores e professores podem desempenhar um papel decisivo em reconhecer os sinais, mas enfrentam hoje um desafio acrescido: o peso dos telemóveis e das redes sociais. O mundo digital, que deveria aproximar, muitas vezes, isola. Crianças e jovens vivem comparações incessantes, pressões irreais e uma solidão silenciosa que, em casos extremos, conduz ao desespero e até ao suicídio.
É urgente responder a este cenário não apenas com apoio clínico, mas também com cidades que promovam estilos de vida saudáveis: ruas seguras, passeios largos, praças e jardins que convidem a caminhar. Escolas sem pressa são mais do que um lema, são a promessa de devolver às crianças o direito de viver a cidade com alegria, confiança e esperança.