Corpo do artigo
Choose Europe for Science foi o tema de uma conferência organizada pelo presidente Macron em Paris, no passado dia 5 de maio. No grande auditório da Sorbonne, estiveram reunidos mais de mil dirigentes de instituições de Ciência e de Ensino Superior da Europa.
Ouviram-se, em duas mesas-redondas, os testemunhos de altos responsáveis de organismos internacionais de Ciência, de grandes empresas, de decisores políticos e de investigadores. De diferentes formas, foi afirmada a importância de garantir os princípios da liberdade académica e de investigação, a importância do trabalho colaborativo e interdisciplinar, a importância do investimento em todas as áreas científicas, nas ciências exatas e naturais como nas ciências sociais ou nas humanidades, na investigação fundamental como na investigação aplicada.
Emmanuel Macron e Ursula von der Leyen, nos seus discursos, anunciaram, com ambição, o reforço do financiamento em Ciência. Financiamento em projetos e áreas de investigação decisivas para enfrentar a complexidade dos problemas sociais, económicos, tecnológicos, ambientais e energéticos, mas também em programas de atração de investigadores estrangeiros, de jovens investigadores, proporcionando-lhes carreiras estáveis e atrativas. Fizeram um apelo aos estados-membros da União Europeia para a concretização do compromisso de investimento de 3% do PIB em I&D, como forma de garantir o futuro da Europa e dos seus valores. Tratou-se, evidentemente, de uma afirmação política, uma tomada de posição sublinhando que a Europa está nos antípodas do atual Governo dos EUA.
Pode ser que entre a afirmação política e as decisões e iniciativas que vierem a ser lançadas se fique aquém da ambição exibida na Sorbonne, mas confesso que há muito tempo não assistia a um evento político tão convincente. Há muito tempo que não ouvia discursos sobre política científica alinhados com os princípios promotores da Ciência.
Por coincidência, este ano, 2025, faz 30 anos que José Mariano Gago criou o Ministério da Ciência. Também, na altura, com um discurso mobilizador que sublinhava a centralidade da Ciência no desenvolvimento social. A política científica que lançou com sucesso começou, justamente, com medidas para atrair investigadores portugueses que faziam as suas carreiras no estrangeiro. Maria de Sousa, Sobrinho Simões, Alexandre Quintanilha, Pato de Carvalho e António Coutinho foram apenas alguns de entre muitos que então regressaram a Portugal, desempenhando um papel decisivo no arranque e desenvolvimento do sistema científico que hoje temos em Portugal.