Começam hoje as candidaturas para o Ensino Superior. Para trás, ficam três anos do ensino secundário centrados na média a alcançar para a entrada no curso desejado. Nesse tempo, pouco se terá feito para ajudar os estudantes a pensar nas profissões que querem ter. É pena, porque isso teria sido importante para as escolhas que irão fazer.
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Nestes quase trinta anos como professora do Ensino Superior, uma das minhas maiores perplexidades sempre foi encontrar estudantes que me dizem que querem tirar o curso de Jornalismo, sem nunca terem refletido nas exigências da profissão de jornalista. Não será essa uma particularidade de quem segue Ciências da Comunicação. Há, entre nós, uma tradição de preparar alunos para alcançarem determinadas médias, sem nunca os colocar perante situações reais de determinadas profissões. Como querer ser médico, sem, por exemplo, ter vocação para tratar doentes e disponibilidade para fazer turnos de 24 horas? Como querer ser professor, sem sentir paciência para ensinar, mesmo até quem parece não querer aprender? O nosso sistema de ensino não está vocacionado para preparar os nossos estudantes para este modo de preparar o futuro.
Também é necessário saber que já não se tira um curso superior que nos sustentará profissionalmente toda a vida. Hoje, o saber e o saber-fazer exigem atualizações permanentes. Aquilo que aprendemos depressa se torna obsoleto. Por isso, há que desenvolver uma formação permanente. Porque atualmente ninguém tem uma profissão para a vida toda. Haveremos sempre de cruzar empresas ou instituições e muitas vezes seremos obrigados a mudar de vida. Ora, isso significa que as escolhas que faremos no fim do Ensino Secundário poderão não ser assim tão determinantes.
Outro cuidado a ter é dar liberdade de escolha a quem faz uma candidatura ao Ensino Superior. Um bom percurso académico é muito condicionado pela determinação e garra dos alunos. É um erro pensar que cursos com saídas profissionais menos promissoras hipotecam o futuro dos estudantes. Não é assim. Nos cursos superiores, cada um faz o seu percurso e vai, ao longo dos anos, desenhando aquilo que fará depois de licenciado.
Quem a partir de hoje se candidata a um curso universitário deverá ter isto em mente: a escolha que fará é importante, mas aquilo que ditará o futuro próximo será em parte desenhado durante a licenciatura. Há, pois, que retirar pressão aos exames do Ensino Secundário e carregar de mais ambição o caminho que se trilha durante licenciatura.
Professora Associada com Agregação da UMinho