Corpo do artigo
"Não tenham dúvidas; era imperioso destruir a capacidade do Japão para continuar a guerra". No dia 6 de agosto de 1945, quando anunciou o lançamento da bomba atómica sobre Hiroxima, o presidente norte-americano Harry S. Truman assumiu sozinho, diante de uma câmara de televisão, a decisão de libertar "a mais poderosa força destrutiva da História" para pôr fim à II Guerra Mundial (aniquilando dezenas de milhares de seres humanos em poucos segundos). Terá ouvido, decerto, a opinião dos seus conselheiros políticos e militares, e do "secretary of War", mas o exercício do poder é sempre um ato solitário, concretizado de acordo com as convicções profundas de cada indivíduo posto na posição de pronunciar a última palavra.
Podendo parecer algo extremo, o exemplo de Harry S. Truman serve bem para enfatizar a importância da eleição do presidente da República português, que detém o poder constitucional de dissolver o Parlamento e convocar eleições antecipadas, frequentemente comparado com a bomba atómica.
Quando votam em partidos, os eleitores tendem a fazê-lo, talvez demasiadas vezes, com uma parcialidade quase clubística e indiferente aos protagonistas individuais, muitos dos quais se evaporam assim que os boletins estão contados. Nas eleições presidenciais, porém, a escolha deve ter em conta o perfil pessoal dos candidatos e as suas características individuais, o seu caráter e a sua constância, analisando não só as convicções que professam, mas também o seu modo de atuação no passado. Só desta forma podemos formar uma ideia aproximada de como, uma vez eleitos, se comportarão no momento em que, a sós com a respetiva consciência, tenham de decidir sobre a promulgação de uma lei eticamente controversa ou no caso extremo de se justificar a dissolução da Assembleia da República.
Napoleão Bonaparte considerava que nada é tão difícil, nem tão precioso, quanto a capacidade para decidir. Cada eleitor possui também a faculdade de escolher tão criteriosamente quanto possível aquele a quem caberá o poder de deliberar em seu nome. O que não há, neste caso, é desculpas para não o fazer.

