Preocupa-me que se caminhe em direção a uma certa industrialização da morte, como se o futuro da vida fosse naturalmente um final científico, desprovido de qualquer sentimento e valor humano.
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"Todos os homens são físico-quimicamente iguais", garante Huxley, na distopia em que fábricas de cremação conseguem recuperar "mais de quilo e meio" de fósforo "por corpo de adulto".
Perturba-me que se diga que a eutanásia é uma concretização puramente individual, sem consequências sociais. É uma decisão pessoal, mas não é um ato solitário. E a morte é um drama comunitário e uma tragédia incompatível com a regularidade e indiferença produtiva. Mas incomoda-me mais que se impeça a possibilidade - consciente, avalizada e excecional - de se escolher não continuar a viver. Não sei o que é o sofrimento intolerável, não julgo quem o deseje terminar.
Jornalista