A Igreja Católica está ferida na sua credibilidade por causa dos abusos sexuais cometidos no seu interior. E é importante que isso tenha sido reconhecido há dias pelo P. Frederico Lombardi em declarações ao "Religión Digital". Ele é o jesuíta encarregado pelo Papa Francisco de moderar a cimeira sobre o tema que se realizará no Vaticano de quinta-feira até domingo.
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O Papa chamou os representantes das conferências episcopais de todo o Mundo e pediu-lhes, como preparação do encontro, que escutassem as vítimas. O Papa quer dar voz aos que foram abusados e obrigados a remeter-se ao silêncio. São eles que reclamam uma mudança profunda de atitude na prevenção e no tratamento destas situações.
Dá-se assim mais um passo no combate aos abusos sexuais na Igreja. Tudo começou quando se percebeu que tentar abafar os escândalos e mudar os predadores de paróquia, para além de ser indigno, não resolvia a questão. Bento XVI obrigou as conferências episcopais a delinear diretrizes claras para estes casos. Embora ainda haja no interior da Igreja quem procure negar o problema e desvalorizar o número de casos que acontecem, dificilmente, depois de escutar as vítimas e tomar consciência do seu sofrimento, se continuarão a adotar os mesmos procedimentos do passado. É por isso o Papa faz tanta questão de que as vítimas sejam ouvidas.
Noutros países foram promovidos encontros com as vítimas. Em Portugal, há uma "disponibilidade ativa" dos bispos "para escutar as presumíveis vítimas de abusos sexuais por parte dos clérigos, segundo as diretrizes de 2012", disse o P. Manuel Barbosa, secretário e porta-voz da conferência episcopal. Apesar de ele ter pedido para ser "bem interpretado nessa expressão", não se percebe se foi respeitado o pedido do Papa.
Para além do tratamento de novos casos, é importante, também, atuar ao nível da prevenção. Para o P. Lombardi, não basta legislar novas regras: é necessário investir numa "boa formação espiritual humana" dos futuros clérigos. As diretrizes da Conferência Episcopal Portuguesa preveem, por exemplo, que seja oferecido pelos "responsáveis pelas vocações e os formadores" dos seminários "o apoio psicológico que for necessário para o saudável amadurecimento psicológico e afetivo dos candidatos e dos seminaristas, tanto no processo de admissão como nas várias etapas de formação".
De facto, a psicologia pode ser decisiva para um harmonioso desenvolvimento humano e espiritual. Contudo, nem toda a psicologia é apta para o fazer. Terá de se inserir na corrente dita humanista, com abertura ao transcendente. Por isso, os psicólogos escolhidos, para poderem acompanhar candidatos ao sacerdócio, além de postularem essa perspetiva, deverão ser pessoas com uma fé esclarecida e adulta, humanamente resolvidas e com uma vasta experiência de acompanhamento.
Se este investimento for feito, muitos dos potenciais problemas poderão ser detetados - e alguns, eventualmente, resolvidos - durante o seminário. É a única forma de não afetarem a futura atividade pastoral.
Padre