Quatro meses em coma. Alucinações e transtornos psicológicos. "Há quem diga que só apanha quem não for forte. Eu fui à tropa e apanhei", explica António Rodrigues, de 53 anos. "Uma enfermaria de cuidados intensivos é uma coisa muito agressiva e complicada. Os enfermeiros e os auxiliares trabalham tanto. As pessoas não têm ideia. E ganham tão pouco. É incrível. Eu dava um espirro - em sentido figurado - e tinha três pessoas à minha volta", descreve Rui Ribeiro.
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Como estes, há milhares de relatos dramáticos de doentes salvos da morte nos cuidados intensivos, após contraírem covid-19. E é preciso dar-lhe voz, sobretudo quando, no sábado, vamos conhecer as novas medidas que o Governo irá adotar no âmbito da renovação do estado de emergência devido à pandemia, sabendo à partida o escrutínio polémico a que estão sujeitas.
É preciso dar-lhe voz porque não basta dizer que os profissionais de saúde e os hospitais estão sobrecarregados e próximos de atingir a capacidade máxima. É preciso mostrar. Mostrar as pessoas. Não apenas os números.
A reunião de ontem no Infarmed, que juntou políticos, especialistas e parceiros sociais, não deixa margem para dúvidas. As palavras do coordenador da Resposta em Medicina Intensiva, João Gouveia, são claras: "Não estamos em situação de catástrofe, mas em situações de rutura em muitos sítios".
E como lembrou Marcelo Rebelo de Sousa, no mesmo encontro, "não há medidas que possam ser eficazes se os portugueses não acreditarem nelas". Perante tanto ruído, contradições e exceções que poucos entendem, como a realização do Congresso do PCP no fim de semana de 28 e 29 deste mês, tudo o que país não precisa é que as medidas para controlar o avanço da pandemia se transformem em apelos mudos dirigidos a uma população cansada de ouvir.
*Diretor-adjunto