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Acho que só lhe consigo perdoar certas parvoíces porque Espanha pode ser vista também dentro dos quadros do Goya e do Velázquez e do Picasso e do Dali e do Miró. A um país que produziu estes pintores e é produto deles tem de se dar uma razoável margem de manobra. Os espanhóis têm até direito a pedir paciência, mesmo quando nos desprezam, lá e cá, e nos olham armados em americanos, que olham de cima para todos os outros. Ainda que teimem em não fazer o mais pequeno esforço para perceber o meu portunhol, impecável na pronúncia e inatacável ao nível da mistura aleatória das duas línguas. Mesmo que em Espanha seja impossível ir ao café comer um croissant com queijo ou fugir daquela música exasperantemente espanhola que se ouve em todo o lado. Até mesmo que eles adorem detestar o Cristiano Ronaldo.
Porque um homem entra no Prado e aprende, com o Goya, olhando para o protagonista dos "Los fusilamientos", que o sublime e a coragem são possíveis, tanto quanto o trágico, o medo e o pesadelo das "Pinturas Negras". Na segunda-feira, que Madrid e Catalunha não se esqueçam disto, que a Luz é essencial e frágil, e exige trabalho e tolerância.
* JORNALISTA