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No dia 24 de janeiro é mais do que provável que aconteça. Ao final do dia Portugal terá um Governo de esquerda, um presidente da esquerda da direita e um politburo no Parlamento que na verdade engloba todos, do centro-direita à esquerda mais radical. É só verificar como todos os acordos que interessam foram feitos pelo bloco central e como se reservaram para os parceiros mais à esquerda as pequenas rajadas da blitzkrieg governativa (como bem lhe chama Camilo Lourenço).
Num certo sentido a aspiração por "um Governo, uma maioria e um presidente" parece ser coisa pouca face a este arranjo universal em que na verdade só fica de fora " a direita da direita". Ao dar-se conta, Paulo Portas zarpou.
Marcelo percebeu tudo a tempo e antes do tempo e lá se pendurou no cesto da gávea que lhe permite avistar todo o espetro político, de Passos Coelho a Jerónimo de Sousa. É tal o campo de manobra que nenhuma jogada escapará à sua observação, nenhuma partida à sua arbitragem e nenhum jogador aos seus cartões laranjas, rosas ou mesmo vermelhos.
Os opositores não puderam antecipar-se pura e simplesmente porque não têm legitimidade para avançar sobre o campo político alheio. Maria de Belém só disfarçadamente pode piscar o olho à direita, Sampaio da Nóvoa olha gulosamente sobre a cerca da esquerda que lhe tolhe o avanço e Marisa Matias ou Edgar Silva são como "espantalhos" em campos de pardais a evitar qualquer bicada precoce.
As campanhas em curso refletem com meridiana clareza esta definição "territorial". Marcelo tem tanta certeza do seu posicionamento que trata apenas de parecer um inofensivo conviva em pequenas paisagens humanas, às quais visita como quem vai tomar chá com as receitas de um médico de província.
Enquanto isso, todos os outros se esforçam em passeatas com mais alcance ideológico onde as televisões maldosamente insistem em mostrar o momento em que a peixeira aflita faz uma derradeira tentativa para se lembrar do nome do candidato que sorridente lhe espetou dois beijos sonoros.
Marcelo vai ganhar as presidenciais à primeira volta, porque parece que o conhecemos da vida toda e porque ninguém, da direita da direita, teve a coragem de se apresentar para desequilibrar o candidato que paira sobre quase todo o resto ainda que, convenhamos, em espargata precária!