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As esplanadas na rua (passeios e praças) ganharam expressão com a pandemia e "vieram para ficar", mais animadas com o sol de inverno que convida ao aproveitamento salutar da "vitamina D". São espaços de convívio, em zonas de restauração, atraindo além de famílias também as citadinas pombas, num compromisso urbano pacífico e de estética e musicalidade agradáveis. Sempre que a oportunidade surge, aos fins de semana, almoço numa esplanada próxima, nas Antas, de agradável convivialidade social e intergeracional, que confere vida e significado à cidade.
Experiências urbanas que chegam a remeter para avaliação analítica do estado de espírito dos cidadãos e da avaliação que fazem do andamento político e social do país. Sente-se "a crise", desde os consumos às conversas com as pessoas, sobretudo ao "estado de alma" da avaliação do nosso futuro, que paira como nuvem de incerteza sobre o rebentar das árvores e os enigmas do amanhã.
Pelas conversas e pensamentos da esplanada, passam atropelos escondidos dos políticos que são cada vez menos tolerados, injustiças sociais mais visíveis e gritantes, reencontros de amigos que o tempo vai adiando mas as pessoas não esquecem e aproveitam a generosidade do local para assinalar. Resumindo, passa a matriz de preocupações da vida urbana e do amanhã, a angústia da idade e a incerteza jovem do futuro, num caldeamento de emoções que nem o sol de inverno consegue atenuar.
Vieram para ficar, as esplanadas, e com elas a crise da incerteza no futuro, interno e global, pois a geopolítica é uma incógnita e no "nosso retângulo" parece mesmo que "anda tudo doido".
* Arquiteto e professor