A esquerda pulveriza-se em partidos e movimentos. E os protagonistas de cada parcela afirmam ego a ego um argumento paradoxal. Unir "as esquerdas". Juram que dividem, para multiplicar. Mas não terão vida fácil. O PCP reforça-se quando se isola. E na pureza da ortodoxia ideológica, rejeita contaminar-se em coligações, a menos que celebradas com outros comunistas, disfarçados de coisa diferente, no que a psicologia classifica de "transtorno dissociativo de identidade". Na política, o fenómeno chama-se Verdes.
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O BE, nascido do radicalismo revolucionário da UDP e do PSR, mais do que querer juntar-se a quem seja, esforça-se por não implodir. A Política XXI ajuda à festa.
O PS, firmado no socialismo moderado, encontrou ao centro a razão de sucesso que justifica manter-se um dos principais partidos do arco da governabilidade. Não o teria conseguido, ou conseguirá, junto de bloquistas ou de comunistas.
Tem sido assim. Mas agora vai ser melhor.
Convencidos de que Portugal é a Espanha, ou a Grécia, alguns dissidentes dos partidos tradicionais de esquerda, transformados em "cidadãos", já se imaginam Pablo Iglesias ou Alexis Tsipras em versão brandos costumes. E sonham repetir-lhes os passos.
Ao menos têm acrescentado humor à crispação da vida política portuguesa.
O 3D - recordam? - com Daniel de Oliveira, Boaventura Sousa Santos, Isabel do Carmo ou Carvalho da Silva, foi criado para "unir a esquerda, onde tem estado dividida". Durou três dias.
O Livre de Rui Tavares - e de ex-3D, ex-bloquistas e ex-comunistas, que frequentemente acumulam todas essas qualidades, se disso se pode falar - surgiu "no meio da esquerda", para "agregar os que não se sentem representados".
O Juntos Podemos, afinal não pôde coisa nenhuma, começando por ser capaz de manter junto quem fosse. Um mês depois de constituída a "comissão organizadora", 14 dos seus 21 membros foram à vida.
O AGIR de Joana Amaral Dias, ex-Juntos Podemos e ex-BE, coligada com a credibilidade do PTP de José Manuel Coelho, apareceu para "unir camadas sociais e políticas diferentes" sem acentuar a divisão "histórica, relevante, esquerda/direita".
Já o PDR de Marinho e Pinto - UEC quando jovem e votante no PCP e uma ou outra vez no PS (suspeita-se que de Sócrates, de quem foi admirador e defensor, bondade nunca concedida a mais ninguém) - desafia "o povo a ter a coragem de fazer outro 25 de Abril".
Como cantava Zeca Afonso, "venham mais cinco, duma assentada, que eu pago já".