Ora agora taxo eu, ora agora taxas tu. A arrecadação de dinheiro pela via da introdução de mais e mais impostos (sim, tecnicamente as taxas são outra coisa) está transformada numa ilusória solução para os problemas do País e tende a alastrar-se até à esquizofrenia colectiva. Apesar de teimoso erro de "casting".
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Nos tempos que correm as alternativas "dietéticas" para o Estado português alimentam-se, de facto, de enorme confusão.
Na oposição, o PSD e o PP eram partidos ases a propor soluções para o emagrecimento do Estado. E até as quantificavam! Era a poupança avisada de milhões de milhões pela via do corte nos chamados consumos intermédios e extermínio de fundações, institutos e empresas públicas criadas a esmo - e de utilidade duvidosa para lá da vinculada à satisfação de clientelas partidárias. E afinal...
Mais de dois meses após a tomada de posse do Governo de coligação, os mesmíssimos personagens do PSD e PP protagonistas da campanha eleitoral meteram ao bolso as contas arquitectadas enquanto oposição e, de estudo em estudo, eis-nos chegados à via simplista: em vez do anúncio de cortes efectivos (especificados) de despesas sumptuárias e descartáveis, a prioridade passa pelo agravar da carga fiscal sobre os mesmos de sempre - a classe média. Emagrecendo-a. Exaurindo-a.
A dieta anunciada, verifica-se, é outra. E a veia de tudo taxar conheceu ontem um acólito inesperado: o bastonário da Ordem dos Médicos.
Em defesa da saúde pública, José Manuel Silva defendeu a introdução de impostos específicos para alimentação "fast-food" e outro "lixo alimentar" como fórmula de ajudar a financiar o Serviço Nacional de Saúde. Também está bem, ainda que tão benquista intenção desalinhe das práticas conhecidas - dos hospitais às escolas não faltam exemplos de serviços públicos a dispor de maquinetas de venda da chamada comida de plástico ou de bebidas de duvidosa qualidade... como solução de financiamento de parte das suas próprias actividades!
A ideia do bastonário da Ordem dos Médicos em tese é boa, mas surge no pior dos momentos: a da confusão estabelecida no País entre a necessidade de emagrecer o Estado, transformando-o, ou de definhar ainda mais o nível de vida dos cidadãos pelo sugar permanente dos seus bolsos.
Assim como assim, em tempo de captura de receitas e enquanto o Governo marina a coragem de pôr em prática prometidas fórmulas de construção de um outro tipo de organização da sociedade, alinho também na onda de captura de dinheiro para satisfazer a gordura do Estado propondo algo talhado para obter bons resultados. Ordenadas por minutos, instituam-se também taxas (impostos) a aplicar sem dó nem piedade aos médicos useiros e vezeiros no incumprimento dos horários de chegada aos hospitais (e permanência), e que contribuem com os seus atrasos para o agravar do sofrimento de doentes, muitos deles avessos a hambúrgueres, batatas fritas e afins...
A receita será boa, acreditem!
E uma taxa assim é de incrementar com rapidez, mesmo antes da moda da caça cega ao níquel recuperar métodos do tempo de Salazar e um dia destes haver quem se lembre de reintroduzir licenças para o uso de isqueiro ou de guarda-sol nas praias!