Na semana que passou, os partidos da Oposição fizeram aprovar na Assembleia da República um conjunto de propostas que alteram, por vezes drasticamente, as políticas que o Executivo havia delineado.
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Não está em causa o seu mérito - pessoalmente, concordo com algumas delas - mas o princípio. Não percebo como se pode pensar governar a partir de um órgão sem poderes executivos ou impor ao executivo pressupostos com os quais este não concorda.
Um país não é uma empresa e os modelos de governação não são estritamente comparáveis. Em qualquer caso, talvez se possam tirar algumas lições olhando para o que se passa nas empresas. Em muitas destas existem administradores não-executivos, isto é, sem poderes efectivos de gestão, cuja função é supervisionar a actividade da comissão executiva. Salvaguardadas as diferenças, o que se passou é quase como se os administradores não-executivos apresentassem e, por serem maioritários, fizessem aprovar, propostas radicalmente opostas às do órgão executivo. Algo que, no mundo empresarial, não passa pela cabeça de ninguém. O que não quer dizer que não possa haver divergências profundas, criadoras de tensões e mal-estar. Quando assim é, assume papel fundamental o presidente do Conselho de Administração, habitualmente uma pessoa com grande experiência e reconhecido bom senso o que o torna, tendencialmente, consensual. Nessas circunstâncias, compete-lhe mediar o conflito, estabelecer pontes e encontrar denominadores comuns e, no caso de as divergências serem insanáveis, criar as condições para que a assembleia-geral, o órgão supremo, seja convocada e decida. Tudo isto na defesa do interesse soberano da empresa.
Nas empresas é mau sinal quando as eventuais diferenças vêm para a praça pública. A discrição é fundamental. Como o é o tempo certo de intervir. São artes que definem um presidente. Um país não é uma empresa mas, ou muito me engano, ou Cavaco Silva vai ter o seu verdadeiro teste nos tempos mais próximos. Muito próximos.
P.S. Defendo a tese que não é o Porto que vive obcecado com ser a segunda cidade do país, mas Lisboa que não suporta a ideia de não ser primeira. Em tudo. É essa a sua concepção do país. Em Portugal, um evento como a "Red Bull Air Race" só faz sentido em Lisboa. Pela ordem natural das coisas. Só não será lá se o governo decidir governar, ou seja, fazer acontecer o que, de outro modo, não aconteceria. Ou se forças mais altas se levantarem. Confesso que o alarido de Menezes e Rio me parece conversa de perdedores. Se os financiadores da eventual mudança são empresas de âmbito nacional é falar-lhes a linguagem que conhecem: deixar de ser cliente delas e desencadear uma campanha para que outros o façam. Se o financiamento vem, pelo contrário, de organismos públicos, denuncie-se e use-se a Assembleia da República para pedir explicações e a ameaça do voto (Francisco Assis percebeu-a de imediato!). E já agora, uma provocação. As corridas de aviões são um acontecimento de impacto nacional, divulgam o nome da cidade mas também o do país. Por isso, no caso da mudança para Lisboa, que tal financiá-la ao abrigo dos efeitos "spill-over"? Eles a vê-los voar (os aviões) e nós a vê-los voar (os euros). Chama-se a isto equidade!