Temos pela frente dois meses e meio de prosódia partidária em que, com certeza, as expressões "estabilidade" e "interesse", ambos "nacionais", vão estar em alta.
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Os motivos não serão necessariamente os melhores. Sucede que, na emergência de eleições, os partidos redescobrem um inusitado interesse pela "estabilidade" e pelo "interesse nacional". Todos, evidentemente, e pela mesmíssima razão. Eles, ou seja, cada um individualmente considerado, são a única garantia de uma coisa e da outra. Uns mais da "estabilidade", todos do "interesse". Foi esse o sentido das entrevistas televisivas (RTP) aos dois líderes dos maiores partidos. António Costa, numa inteligentíssima entrevista, que realizou, ao "dono" da informação da RTP, António José Teixeira, surgiu previsivelmente como o chefe do único partido susceptível de garantir a "estabilidade", de preferência "reforçada". Com ele, sozinho. Com todos à sua esquerda. E, com jeitinho, com o dr. Rio, que ambiciona substituir o Bloco e o PC no coração político de Costa. Se obtiver mais um voto dos que obteve em 2019, Costa famosamente não largará o osso. Já o egrégio Rio é diferente. Frente a frente com o melhor jornalista da RTP em matéria de entrevistas, Vítor Gonçalves, Rio inventou, na sua "alegre inconsciência", que anda a fazer oposição a Costa há quatro anos. E que, agora, dada a circunstância eleitoral, o "povo", grato por tão magnífico exercício, lhe vai entregar o governo do país. Mais. Supõe, até, que a sua aura ultrapassa a do próprio partido de que ainda é líder. Daí anunciar que nem sequer se recandidata propriamente a presidente do PSD, deixando tamanha abjecção nas mãos de "call centers". Os militantes sociais-democratas que vão escolher a 27 de Novembro o chefe do partido e, em simultâneo, o candidato a primeiro-ministro da não esquerda parlamentar, são, para Rio, uma espécie de dano colateral. Em nome, lá está, da "estabilidade" e do "interesse nacional". A estes dois beneméritos, e, sobretudo, ao dr. Rio - uma vez que o futuro político imediato do que o dr. Costa representa há seis anos me é indiferente e, sem sofismas, o oposto do que defendo para Portugal -, lembro Francisco Sá Carneiro, em 1978, num momento político algo parecido com o actual em pusilanimidade e transigência. "Somos oposição e não devemos sê-lo de uma forma tíbia ou complacente". Nem tão-pouco "compete à oposição estar a emendar os erros e incorrecções do governo, nem com ele negociar". Não custa nada.
O autor escreve segundo o antigo acordo ortográfico
Jurista